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ACABAMENTO NA ESCULTURA EM ARGILA


ARGILA/ADOBE DE ARGILA/ACABAMENTO EM ARGILA/BARBUTINA


Fiz minha opção pela argila, como material de base para escultura, disposta a enfrentar o preconceito e as dificuldades que este material impõe.
Preconceito, sim, porque a argila é material farto na natureza, não é dispendioso, é reciclável, aparentemente não requer grande técnica e qualquer pessoa pode usar. Tudo isso faz com que a argila seja considerado um material "de menor importância", e consequentemente, as peças assim realizadas, de menor valor.
Nada disto me convenceu.
Já vai longe o tempo em que os artistas trabalhavam em obras de arte destinadas a durar séculos. E mais pessoas conhecem das grandes obras por fotografias e registros visuais, do quê pelas vezes que estiveram frente a frente com o original.
Além disso, ainda estou "estudando", e a maioria das minhas peças não são mais do que exercícios que quero guardar. Então, preciso de técnicas simples, que decidi pesquisar.

Uso o blog para fazer um resumo do quê já pesquisei, e de seus resultados, até aqui.


MODELAGEM EM ARGILA

A argila é simples, direta, fácil de lidar, expressiva.
Modelar argila tem seu lado terapêutico, evoca o lidar com a terra, aos mais básicos dos sentimentos. Argila é um material ecologicamente correto.
E se nenhum destes argumentos for suficiente... eu gosto, e "ponto". Nenhum outro material me traz tanto prazer, tanta alegria. Inúmeras vezes, pensei em desistir dela. Nunca consegui.

Por outro lado, a argila propõe grandes desafios. Trabalho com argila, não com "cerâmica". E as peças, depois de prontas, são extremamente frágeis, seja pela dificuldade de transporte (quebram), ou na de armazenamento (umidade).




TRÊS GRACINHAS - Elaine Novaes Falco



 
Comecei trabalhando com argila, fazendo o que todo mundo faz: treinando modelagem, e ao final, fazendo peças que se destinavam à queima. Porém... estava na faculdade. Porém... na faculdade só tinha UM forno de queima, e era pequeno. Além disso, nunca tinha certeza se minhas peças haviam sido batidas & espancadas & sovadas o suficiente para que todo o trabalho não saísse em cacos, no momento de tensão que é abrir o forno depois de uma queima. Quantos trabalhos lindos se perderam ali? Dizem que nem mesmo os melhores ceramistas conseguem ter certeza absoluta de que suas peças não irão rachar ou quebrar no teste do forno.
O que eu sei, é que não tive coragem de colocar minhas melhores peças para queimar.


MEDUSA - Elaine Novaes Falco

E foi esta a minha desculpa, para jamais colocar no forno a peça de conclusão das aulas de cerâmica (sim, é um contrassenso, mas foi o que aconteceu).
MEDUSA é uma peça oca, foi construída sobre canudinhos de jornal, bem enroladinhos e compridos, argila de qualidade e muito trabalho para socar tanto material.







Este ano, no embalo da pós graduação em arteterapia, estou fazendo poucos trabalhos, sem objetivo definido.





Comecei o ano esboçando os personagens de um romance, "aquele" que pacientemente aguarda que eu tenha tempo de escrever! Esta é a cabeça de HAIMIAH, concebida em 2013, fotografada quando estava terminando a modelagem.

Quase fim de ano, e no processo de secagem está a cabeça de elfo... porque aqui estou eu, escutando o chamado da fantasia, outra vez!





















REVESTIMENTO COM RESINA

Tive bom resultado de acabamento, para peças sólidas de argila seca, com resina cristal.

Esta CABEÇA, primeiro estudo de uma "justiça distraída", é uma peça sólida de argila, uma das primeiras em que optei, depois de bem seca, receber uma camada de resina cristal.

Para preparar a resina para utilizar como um verniz, utilizei uma porcentagem de catalisador maior do quê o recomendado para a produção de peças. Para espalhar sobre a peça, utilizei um pincel largo e "pintei" a argila, duas camadas generosas, cuidando sempre dos pontos onde a resina escorre e forma "pingos".
A resina, aplicada, dá um efeito vitrificado depois que seca.

CABEÇA Elaine Novaes Falco
Este tipo de técnica funciona bem quando se trata de peça sólida, sem pontos frágeis, quando a resistência da peça vem da própria argila seca.
Neste caso, a resina proporciona o isolamento da peça de qualquer umidade, bem como um brilho do acabamento, quase um vitrificado. A resina ainda tem a vantagem de realçar a cor originária da argila, mesmo quando se usa um barro de menor qualidade.

Porém, nas peças com detalhamento, a resina fornece uma proteção pequena.
Passando o produto a pincel, a camada fica fina e quebradiça, portanto insuficiente para acrescer à resistência. São peças frágeis que continuam frágeis.
Mesmo assim, eu utilizei essa técnica para proteger uma série de trabalhos que fiz como mero registro de ideia, esboços a ser guardados até um dia qualquer, no futuro.

CAIXA DE PANDORA, detalhe dragão
Elaine Novaes Falco

MINOTAURO - Elaine Novaes Falco


TECNICA MISTA COM MEIA DE NYLON


Em CABEÇA DE IDOSO (2011), usei técnica mista.
Primeiro, fiz a peça em argila sólida.
 Depois de delinear as feições, apliquei um tecido de nylon (uma parte cortada de uma meia calça cor pele), e com água suja de barro (não chegava a ser uma barbutina, estava mais diluído), novamente modelei a peça, até que todo o tecido estivesse com sua fibra imersa na argila. 

Cabeça de idoso, Elaine Novaes Falco/2011

Depois disso, passei sucessivas camadas de cola branca, maquiagem, outra vez cola branca, detalhes com acrílica, mais uma vez cola branca, maquiagem, outra camada de cola branca, e repeti o processo, colorindo e sombreando aos poucos. Ao final, apliquei cílios postiços.

Cabeça de Idoso, vista frontal, Elaine Novaes Falco/2011




REVESTIMENTO (COBERTURA) COM CERÂMICA FRIA




Cabeça de mulher, Elaine Novaes Falco/2012, cerâmica fria sobre argila
Também experimentei revestir a peça de argila, com uma camada fina de cerâmica fria. CABEÇA DE MULHER, é um original em argila seca, peça sólida, de 2009. Fiz o acabamento em 2012, aplicando sobre a peça uma camada muito fina de cerâmica fria DAS (foto abaixo), depois apliquei vernizes.






Cabeça de mulher, vista frontal, Elaine Novaes Falco/2012, cerâmica fria sobre argila


Esta a cerâmica fria que estou (estava...) utilizando.
É um produto mineral, de fabricação italiana (se não estiver enganada), que não retrai ao secar e, por isso, é uma excelente opção para modelar e para revestir.
Porém, a importação do material foi interrompida para a minha cidade, e não encontrei material similar no mercado.
Fiquei sem essa opção... 



ADOBE DE ARGILA

Uma opção à queima, é trabalhar com adobe de argila. 

COTIDIANO - Elaine Novaes Falco
Fiz o adobe sem grandes segredos: abria a argila como uma massa de pão grossa, dentro de uma bacia, e então, com ajuda de uma peneira de cozinha, polvilhava uma camada fina de cimento e espargia água.
Sovei a mistura, até ficar novamente com a mesma textura da argila original, espargindo um pouco de água quando necessário.

É cansativo, mas não é difícil.
Nas primeiras horas, o material permite moldar a peça na sua forma principal, mas não é possível fazer detalhamentos, o cimento começa a trabalhar e a argila se torna quebradiça.
O efeito passa após 24 hs. Portanto, depois de modelar a forma da peça, basta cobrir com um plástico, e no dia seguinte estará tudo pronto para começar os detalhamentos.
Embora os resultados não fossem ruins, o problema é que as peças ficam muito pesadas.
Se o adobe comum  já é pesado, imagine quando compactado com argila! 
É um material denso, mas as peças fiquem interessantes e o material seja muito resistente.

Foi em razão do peso que, ao tentar utilizar o adobe de argila para uma peça de maior porte, optei por fazer primeiro a forma, em uma peça de argila oca. Depois, com a argila ainda úmida, revesti a forma da peça com atadura de gaze, deixando tudo bem firme.

 




Pronta a base, umideci a gaze vaporizando água, o suficiente para conseguir aplicar o adobe de argila sobre a peça. Fiz a colocação de todo o material necessário, aguardei 24 horas com a peça protegida com plástico, depois passei a fazer todos os detalhamentos necessários.

Depois de pronta, a peça pode receber qualquer tipo de acabamento. Como O INQUISIDOR era um trabalho experimental, fiz a capa do anjo da morte com parafina e corantes em tons de azul, cinzas e preto, ao mesmo tempo em que pintei com acrílica a figura feminina.










EQUILÍBRIO E ESTRUTURA
Na peça CENTAURO ALADO, a dificuldade eram as diferentes quantidades/grossura da argila, dependendo da parte do corpo da figura.
Precisava criar asas muito finas, desproporcionais ao corpo denso do cavalo.

Decidi fazer a peça a partir de uma forma de arame, que recobri com atadura de gaze da mesma forma que já havia testado com o INQUISIDOR.
A partir desta base, recobri a asa/gaze com argila diluída em água (como uma barbutina), e controlando, diariamente, o processo de secagem e as inevitáveis rachaduras que surgiam na passagem das diferentes grossuras das camadas de argila.
Assim, a cada nova rachadura que surgia, pois os tempos de retração são diferentes - aplicava uma nova camada de barbutina, e mais uma vez harmonizava tudo.
Também providenciei uma secagem extremamente lenta, mantendo a peça sempre mal coberta com um plástico amplo, de forma a dirigir e retardar a secagem.





COLA BRANCA - ADESIVO PVA


Quando o tempo é curto para testar novas técnicas, mas quero proteger modelagens de estudo, uma boa opção é revestir com cola branca.

Qualquer cola branca serve para proteger a peça de argila da umidade. Nenhum segredo: quando a argila estiver bem seca, espalho a cola com um pincel, como se estivesse "pintando" a peça. E usando a cola branca de ateliê, adesivo PVA, tem um resultado muito bom, parecido com o revestimento em resina, só que mais fácil e barato.











A cola de PVA permite pintura na peça.
Por isso, é uma opção que, depois da primeira (generosa) camada de cola branca isolante, a peça seja pintada. Utilizo tinta acrílica, porque além de gostar do material, é uma tinta a base de água, assim como a cola branca.


PINTURA COM ACRÍLICA E COLA BRANCA, SOBRE ARGILA SECA


Na cabeça de HaimiaH, optei por pintar a peça de argila seca, depois de isolar com cola branca PVA. Fiz várias camadas, alternando a cola branca, a tinta, e novamente a cola branca.
Com a peça já terminada, fiz uma última camada de isolamento, desta feita com verniz brilhante para tinta acrílica.

O resultado final ficou interessante, e bastante útil tanto para peças de estudo que se pretende guardar, como para peças que se pretenda fotografar.


 modelagem em argila, secando




Peça terminada, pintura em acrílica sobre argila seca, fotografia ao ar livre. 



 Usei a mesma técnica, para fazer a cabeça de ELFO: