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sábado, 11 de janeiro de 2014

REALIDADES ADAPTADAS, de Philip K. Dick

Porque alguns autores alcançam notoriedade, enquanto outros são relegados ao esquecimento?

Ano passado (que pela primeira vez vi editado em português) encontrei num sebo que pouco frequento, quatro revistas antigas do Isaac Asimov Magazine (volumes 8, 9, 10 e 19). Comprei para ler aos poucos, contos e mais contos interessantes, a maioria de autores de que nunca tinha ouvido falar. Mais de uma vez, pensei... quanta gente já escreveu ficção científica! E quão pouco conheço! Com o ano chegando ao fim, encontrei o livro REALIDADES ADAPTADAS, contos de PHILIP K. DICK (leio em português, tradução de Ludimila Hashimoto, editado em 2012 pela Editora Alep Ltda, São Paulo).

O livro é quase uma homenagem ao autor, falecido em 1982, aos 52 anos, três meses antes do lançamento do primeiro filme baseado em sua obra. Que, aliás, era nada mais, nada menos, que Blade Runner, o Caçador de Andróides - um cult da minha juventude, um filme que adorei e assisti mais de uma vez -. Só isso já era suficiente para que levasse o livro para casa, mas não era só. A apresentação e comentários destacam que os contos de PHILIP K. DICK foram base de vários filmes intrigantes, todos de ficção científica, que assisti, gostei, fizeram pensar, citando entre os sucessos de bilheteria, O Vingador do Futuro (1990), Minority Report - A Nova Lei (20020), e O Vidente.

Porque assisti aos filmes, o livro ficou ainda mais interessante.
Porque são CONTOS, mesmo, assim como aqueles publicados na revista de Asimov, relativamente curtos, instigantes, provocadores, interessantes.

Cada um dos sete contos reunidos, vem precedido de uma breve referência sobre o filme que originou. E os filmes não foram (como estou acostumada a comparar) adaptações da literatura para a película. Fica muito fácil, depois de ler tais contos, entender a diferença entre ADAPTAÇÃO e ROTEIROS, este último no verdadeiro sentido do termo, ou seja, uma obra nova, uma criação a partir da ideia central do conto, com as modificações específicas para a linguagem do cinema.

Em REALIDADES ADAPTADAS estão reunidos sete contos que posteriormente foram base de populares filmes de ficção científica, a saber Lembramos para você a preço de atacado, publicado em 1966 (O Vingador do Futuro/Total Recall, primeira versão de 1990), Segunda Variedade, escrito em 1953 (Screamers, Assassinos Cibernéticos, filme homônimo lançado em 1995), Impostor, publicado em 1953 (filme homônimo lançado em 2001), O Relatório Minoritário, conto escrito em 1956 (Minority Report, A Nova Lei, filme lançado em 2002), O Pagamento, publicado em 1953 (Paycheck, filme lançado em 2003), O Homem Dourado publicado pela primeira vez em 1954 (O Vidente/Next, lançado em 2007), e Equipe de Ajuste, escrito em 1954 (Os Agentes do Destino/The Adjustment Bureau, filme de 2011).

O livro tem ainda um último, e curto, capítulo, reunindo notas explicativas do próprio autor. Estas notas haviam sido solicitadas, à época, pelos próprios editores, para serem incluídas nas coletâneas como uma visão do autor, sobre seu próprio texto, um costume nas edições da época.

De todos os contos, escolho como preferido  O Homem Dourado, 1954 (O Vidente/Next, filme de 2007). Amei a ideia do (lindo!) "homem dourado", o personagem central, que é um humano/mutante, em uma  história que questiona o próximo passo evolutivo da raça humana. Isso foi subtraído no filme, onde o personagem central é apenas um humano paranormal, um "vidente".

Fiquei feliz, portanto, ao terminar de ler os contos e descobrir que O Homem Dourado também era a história que recebeu mais comentários do autor. Fiquei sabendo, então, que John W. Campbell Jr, o editor de uma famosa revista de ficção científica, de nome Analog, só publicava contos onde os mutantes fossem seres bondosos, evoluídos e senhores da situação - como o são, por exemplo, todos os super-heróis com superpoderes, inventados por autores diversos no mesmo período. Os contos de DICK foram rejeitados por esta revista.

Assim, em suas notas, PHILIPH DICK faz uma reflexão, expondo as razões pelas quais discorda dos aspectos emocionais envolvidos no que chama de "poderosa fantasia". Entende, inversamente, que nós/humanidade tenderíamos a receber com estranheza e agressividade o surgimento de "mutantes", e que, a médio prazo, eles se tornariam essencialmente perigosos. Isso, porque o autor não vê lógica em supor que nossa humanidade "evoluída" pudesse ter real interesse em proteger, dirigir ou beneficiar uma versão tosca de sua própria evolução.




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