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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

AVATAR, Os relatórios Confidenciais do Mundo de Pandora, de M. Wilhelm e D. Mathison

Assisti o filme AVATAR, de James Cameron, e fiquei apaixonada. Não sei se foi a história propriamente dita, a tecnologia dos efeitos especiais, ou o renascimento do desejo antigo de ser colonizadora em outro planeta. Perdi a conta de quantas vezes vi o filme...

E então, uma tarde qualquer, fuçando um sebo na prateleira da ficção científica, encontro AVATAR, OS RELATÓRIOS CONFIDENCIAIS DO MUNDO DE PANDORA [observando que na capa interna, o título da obra consta como Guia de Sobrevivência do Ativista AVATAR, Um Informe Confidencial da História Biológica e Social de PANDORA), autores Maria Wilhelm e Dirk Mathison (leio em português, tradução de Marcelo Barbão, para a edição de 2010 da Editora Leya)

Fartamente ilustrado, o livro é um achado para quem gostou do filme.

Foi escrito como um Guia de Sobrevivência, o narrador é um personagem com o objetivo explícito de "destruir a RDA", e de quebra, salvar Pandora e nosso próprio mundo. Depois da introdução, onde são expostos os objetivos deste personagem/pesquisador e ativista, o livro aborda a Astronomia e Geologia de Pandora, a Fisiologia e Cultura Na'vi, a Fauna, Flora e tecnologia humana em Pandora. Seguem guia das armas e documentos da malfadada RDA, glossário e até um dicionário Na'vi-Português!

Mas prepare-se: depois de olhar o livro, vai querer ver o filme outra vez.
Impressionante a quantidade de detalhes da cenografia de AVATAR, que se tornam mais nítidos e interessantes depois da leitura desse "guia". Precisei assistir o filme outra vez, se não pelo simples prazer, mas para olhar de novo as montanhas "suspensas no ar", agora que tenho a explicação "científica" para o fenômeno inexistente na nossa terra.

O que achei de mais sensacional, foi que o livro inverteu o que era, para mim, uma velha questão: ler o livro, ou assistir o filme? Geralmente leio o livro primeiro... e nem sempre gosto do filme. Ou assisto primeiro o filme... e fico com preguiça de ler o livro.

Mas o "guia" é diferente. Desta vez, não há uma competição entre livro vs filme, para decidir qual conta melhor a mesma história.

Neste caso,livro e filme se complementam enquanto falam de coisas diferentes. Quase são duas histórias (embora o livro, conquanto "guia", não seja propriamente uma "história"). É mais como espiar as coxias, o que mais foi criado pela imaginação dos autores, mas não "coube" no roteiro do filme. Ou seja, é como entrar em Pandora com os próprios pés. E, sobretudo, um testemunho da riqueza do trabalho criativo, multidisciplinar, do roteiro e da imagem combinados.




HOMENS, LOBOS E LOBISOMENS, As Histórias mais Fascinantes (coletânea)

Ah, as festas de fim de ano e suas noites & mais noites de fogos de artifícios. Lembro com saudade do tempo em que os fogos eram apenas na meia noite de réveillon, só uma grande festa. Porém, nestes últimos três ou quatro anos... um pouco mais a cada ano, são dez ou doze dias de fogos espocando a qualquer hora do dia ou da noite. Mas explico: é que tenho dois cachorros, eles tem medo dos fogos. Se acontece uma vez por ano, se assustam, mas passa. Mas quando acontece dias & noites seguidas, ficam cada vez mais apavorados, trêmulos, ofegantes. Uma dificuldade. Conclusão? Noites de insônia, muita televisão com som mais alto do que de costume, e madrugadas com leituras que pouco tem a ver com o propagandeado espírito de Natal ou de Ano Novo...

Mas somando noites insones e cachorros, que leitura melhor do que os contos sobre HOMENS, LOBOS E LOBISOMENS, uma coletânea com As Histórias mais Fascinantes desta fantasia? (leio em português, tradução, seleção e introdução de Edson Bini, publicação de 2005 da Editora Marco Zero ).


O livro se compõe de uma introdução, do organizador, que expõe uma concepção pessoal do mito. O segundo capítulo, com título EXCERTO DO DICIONÁRIO INFERNAL, DE COLLIN DE PLANCY, reproduz uma pesquisa breve sobre episódios com lobisomens registrados entre os séculos XV a XVIII. Uma nota de rodapé informa que Jacques Albin Simon Collin, falecido em 1881, chamou-se Plancy em razão de sua cidade natal, e foi, em sua época, um folclorista (hoje o chamaríamos de sociólogo), mas passou para a história como um demonólogo, posto que parte substancial de seu trabalho foi dedicado às crenças religiosas exacerbadas do mundo feudal.

Seguem-se dez contos, bem interessantes, de autoria de Guy de Maypassant (O lobo), Henry Hector Munro [Saki] (Gabriel-Ernest), Ambrose Bierce (Os olhos da pantera), Frederick Marryat (O lobisomem das montanhas Hartz), Sutherland Menzies (Hugues, o lobisomem), Henry Hector Munro [Saki] (Os intrusos), Edith Nesbit (A loba branca), Walter Scott (Urso Negro), uma novela de Alexandre Dumas (O senhor dos lobos), e um autor brasileiro, Kenneth. G. Seymour (Lobisomens em São Paulo? Hoje?).

Embora todos sejam interessantes, gostei ainda mais de Edith Nesbit (A loba branca), e Alexandre Dumas (O senhor dos lobos). São duas histórias proporcionalmente longas, com desdobramento pouco previsíveis, que atiçam a imaginação.

Todos são contos clássicos, já em domínio público.

Isso torna interessante observar como o mito do lobisomem modifica com o tempo. Nestes contos, pouco se vê a dimensão humanizada com que o mito é tratado na atualidade. Nestas histórias, o lobisomem é uma fera mágica, e age com o instinto do predador.

Hoje cercados pela artificialidade, a natureza parece um luxo.
É curioso ler contos antigos, porque ali a natureza é selvagem e impõe medo, além do respeito. Viva, forte e misteriosa, encerra perigos letais. São histórias de um tempo onde o homem ainda não conseguia olhar para si ciente de que somos o pior predador do planeta. Uma época onde a sobrevivência também incluía valores como a honra e a lealdade.




domingo, 1 de dezembro de 2013

AS LUZES DE SETEMBRO, de Carlos Ruiz Zafón

Não importa se os primeiros livros de Zafón, agora reeditados, eram considerados como literatura infanto juvenil. As histórias são tão lindas, e a narrativa tão envolvente, que acabo comprando e lendo como quem se dá um presente.

Desde que li A SOMBRA DO VENTO e comecei a acompanhar a republicação de suas histórias que o encantamento é o mesmo. A última leitura, foi AS LUZES DE SETEMBRO (leio em português, na tradução de Eliana Aguiar, edição de 2013 da Editora Summa de Letras).

Desta vez, Zafón aborda o universo dos autômatos, aqueles bonecos famosos no século XVII ou XVIII, que se movimentam por mecanismos tão precisos quanto os de um relógio suíço. E convenhamos: quem já não olhou um destes bonecos, e além da ilusão de que seja dotado de vida, também não acrescentou um mini roteiro de filme de terror, com o boneco ganhando vida e saindo para assustar todo mundo?

AS LUZES DE SETEMBRO são uma visão poética do que, de outra forma, é um filme de terror. Uma família assombrada por uma promessa que mais parece uma maldição, e um espírito maléfico que toma vida através dos autômatos que Lazarus constrói com tanta maestria. Um passado de tragédias que se revela, aos poucos, em um roteiro de aventura.

A sensação de poesia vem da inocência das crianças que, contando a história enquanto lutam para sobreviver apesar do mal que paira como uma sombra na velha mansão, olham as tragédias na vida dos adultos que as cercam. E também neste romance adentramos a ambientes antigos e quase medievais, toda a trama envolta em referências da bela cultura antiga, obras de arte, arquiteturas que fazem sonhar, construções cercadas do silêncio dinâmico da natureza.

Uma leitura perfeita para respirar um pouco e se distanciar do caos da vida cotidiana.



O SOL VERMELHO de Marion Zimmer Bradley

Que alegria, quando encontro algum livro da Marion Zimmer Bradley que ainda não li. Nestas horas que compreendo como minha cidade é mesmo uma aldeia (apesar de ser uma capital, razoavelmente grande), e quantos livros demoraram a chegar sob meus olhos.

Encontrei O SOL VERMELHO campeando sebos, é claro. Acho que era o fim de estoque de alguma livraria, pois o volume ainda não tinha sido manuseado, ninguém o leu. Sei, porque existia falha na edição, páginas que não foram bem cortadas e, em dois lugares, ainda estavam unidas na dobra. Fui eu a separar as pontas ainda uma mesma folha, por isso sei que fui, também, a primeira pessoa a ler o livro.

O SOL VERMELHO é mais um volume da saga de DARKOVER, e conta a história de Jeff Kevin e Auster, amigos separados ainda na infância, um deles darkorviano da linhagem do Comyn, outro um mestiço darkoviano com humano, ambos dotados de poderes paranormais.

O romance aborda preconceitos. Jeff, criado como humano, nunca conseguiu se sentir à vontade em nenhum dos muitos mundos pelo qual passou, inclusive na Terra, onde viveu com seus avós. A primeira parte do livro lembra um pouco a história do Patinho Feio, alguém que não tem uma razão objetiva para não se sentir feliz nos muitos lugares por onde passa, entretanto... sente-se sempre fora de seu lugar, longe da sua gente, embora não tenha ideia de onde seria esse lugar e onde encontrar esse povo, que não conhece mas sente falta. Darkover o fascina, sem que saiba explicar o porquê. Consegue, enfim, um trabalho no planeta vermelho, mas a sensação de estar "em casa" é tão forte, que abandona o trabalho e foge para o planeta, aventurando-se a partir de sua intuição.

Na sequência dos livros, O SOL VERMELHO se passa após a TORRE PROIBIDA, quando a herança genética já foi utilizada a tal ponto, os casamentos familiares tão repetidos, que quase não há mais filhos das grandes casas com poderes telepáticos. Com isso, as Torres quase são desativadas, poucas as crianças habilitadas a operar, e se questiona a possibilidade de substituir a energia ancestral, pela tecnologia e confortos trazidos pelos humanos através do Império.

Mas para que Jeff possa ser uma esperança de renovação nas tradições antigas, é necessário que seus companheiros sejam capazes de superar o preconceito, aceitando trabalhar com um terráqueo sem origem nobre, ao mesmo tempo em que se questiona a necessidade de sacrifício das sacerdotisas superiores e da limitação imposta de que se mantenham em contínuo estado virginal. As tradições precisam ser revistas, sob pena de perecerem como lendas de um passado remoto.

Foi uma leitura interessante, porque embora o original seja de 1979 (leio em português, na tradução de Luciana Mello, edição de 1996 da Imago Editora Ltda), os assuntos são muito atuais: o preconceito que se acirra quando há efetiva necessidade de mudança, e a única opção apresentada significa abrir mão de uma tradição valiosa e significativa. Como conciliar?

Marion Zimmer Bradley parece profética nesse conto de fadas. E com um final surpreendente, bastante positivo. GOSTEI!, delícia, tomara que ainda encontre outros livros não-lidos dela. Por via das dúvidas, sempre dou uma conferida nas prateleiras de qualquer sebo em que entre.