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terça-feira, 8 de outubro de 2013

A FILOSOFIA DA ADÚLTERA, de Luiz Felipe Pondé

E dizer que não gostava de "filosofia"... e hoje, meus autores brasileiros preferidos, que leio com mais prazer, são dois filósofos!

Ontem comprei A FILOSOFIA DA ADÚLTERA, Ensaios Selvagens de Luiz Felipe Pondé (editora Leya, 2013), então li um pouco-bem-pouco no escritório, outro tanto no ônibus, entrei mais um tantinho pela madrugada e... bem... kbô!


A FILOSOFIA DA ADÚLTERA é a filosofia de Pondé, pelos olhos de Nelson Rodrigues. Ou será o inverso?

Textos ao melhor estilo "a vida como ela é". Curtos, quase crônicas, com gosto de bate papo, lareira e vinho, na companhia de alguém de raro senso de humor. 

Comecei a ler, não parei.






O livro já chama a atenção desde a capa, filtros rosa e vermelho, sobre a imagem de uma mulher "anos 50" retocando o batom, que bem atiça o imaginário "bonitinha-mas-ordinária" que a gente associa mesmo aos textos de Nelson Rodrigues. Trajeto de volta prá casa, um trecho eu li no ônibus, em pé, depois de achar um canto seguro prá encostar a mochila e as costas. E via de canto de olho, quem mais estava à volta, espiando por cima dos meus ombros tentando entender que livro era essa capa de sutil sugestão erótica. E quando não ria de algum comentário lido, aquelas tiradas rápidas tão características do autor, então ria sozinha de quem tentava descobrir sem perguntar, com vontade de ser desmancha prazeres prá avisar: é livro de "filosofia", sacou?

Agora, meu volume está cheio dos tracinhos de destaque, que tenho o costume de marcar prá reler mais tarde, achando rápido o que mais gostei. É uma seleção variada, as frases que pinçaram aquela corda nervosa, como um eco de caverna indicando que ainda há mais oculto na névoa e no desconhecido. "... Escrevo para não me sentir só." [p 24], que lembra outra frase que gosto muito, de uma aula das Oficinas de Literatura da FCC de tempos atrás: "Como Sherazade, contamos histórias para não morrer." E tem mais, muito mais. D' "... o homem como um ser sempre à beira da morte, sonhando com o amor..." [pg 23], e da liberdade e do individualismo, como um estado de alma poderoso, solitário e sofrido.

Gostoso mesmo, foi ler Pondé falando (e/ou explicando) sobre o tédio desta sociedade de felicidade "tecnológica, científica" e programada. Sabe... ver pessoas reivindicando direitos de forma histérica traz junto uma vaga sensação de que, estas, eram pessoas entediadas. Mas sem palavras para explicar, quem consegue comunicar?
Em A FILOSOFIA DA ADÚLTERA, o autor refere a esse tédio peculiar, e melhor: tem palavras, vocabulário, expressões, Nelson Rodrigues, histórias e personagens que tornam a percepção do fato clara como água de nascente. Encontrei as palavras que me faltavam!

Ah, a vida fica tão mais viva, vista pelo olhar de Nelson Rodrigues até Luiz F. Pondé... e então, de Pondé para... bem... de volta à vida real, olhar & olhar de novo, afiando um olhar selvagem. Porque não?



quarta-feira, 2 de outubro de 2013

AMBER HOUSE, de Kelly Moore, Tucker Reed e Larkin Reed

Ah, as velhas casas cheias de segredos!
(Porque foi que não nasci herdeira de uma grande e velha casa cheia de passagens secretas e pequenos tesouros do passado a serem descobertos? Gosto tanto disso!)

Diz a anotação de orelha de AMBER HOUSE - Onde o passado e o futuro se encontram, que a história aguardou cerca de trinta anos, para terminar de ser escrita. É que KELLY MOORE imaginou a história quando ainda era estudante de direito, e fez anotações em meados da década de 1980. Depois teve duas filhas, Tucker e Larkin, que descobriram o manuscrito anos atrás, e decidiram reescrevê-lo, juntas.

Assim, a mistura de passado e futuro não está só na história ficcional, mas tem um pouquinho dela na história das escritoras também.
Deve ser sensacional... já imaginou reescrever a história inventada por sua mãe, quando ela mesma tinha só a sua idade?
(Leio em português, tradução de Martha Argel, editora Jangada edição 2013).


A história é uma delícia.
O livro já entrou para a minha lista pessoal das casas mais adoráveis, fascinantes e inesquecíveis da literatura de ficção.
A trama tem tudo o que eu gosto, e só para começar, os ecos do passado que mais parecem fantasmas que voltam à vida.

Se pudesse escolher um poder paranormal, seria o mesmo das mulheres de AMBER HOUSE: o de tocar um objeto e conseguir visualizar pessoas, fatos e emoções do passado de quem, antes de mim, também tocou no mesmo lugar. Já imaginou?
É o que acontece com Sarah, no momento em que entra na velha casa de família, herança da avó que acaba de falecer. Aos poucos, cada objeto que toca lhe traz uma visão/lembrança do passado, de suas antepassadas que também viveram ali. E não é pouco: são trezentos anos de história, em uma casa que cada geração ampliou um pouquinho, acrescentando sua cota de espaço e tragédia. Presente e passado vão se misturando, e mais um tantinho de romance, e de desencontros em família.

Mas a maioria dos objetos significativos estão ocultos, escondidos, pois a casa é cheia de passagens secretas. Alçapões desativados onde antes se escondeu contrabando e escravos fugidos. Corredores e sótãos que guardam baús com objetos de memórias dolorosas que não se pode, ou não se quer, sejam jogadas fora.

A história continua... e a proposta do romance se torna ainda mais ousada: viagem no tempo e mundos alternativos. O que aconteceria se um fato, uma tragédia, um destino pudesse ser evitado?


SÓ QUE....

Pois é, quando cheguei no fim do livro... tchantchantchan,,, mais uma trilogia!
(Desta vez, ainda bem, são livros independentes, a história está inteira e não fiquei ansiosa para saber o que acontece "depois"... embora esteja curiosa em saber o que será o segundo volume!)

Pelo jeito, ano que vem será uma delícia passear na livraria. Pelas minhas contas, tenho prá ler o lançamento do segundo volume dos lobisomens da Anne Rice, a sequência da 5ª Onda, e mais o segundo volume do Amber House. Nada mal!