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domingo, 18 de agosto de 2013

O SANTO GRAAL, de Michael Baigent, R. Leigh e H. Lincoln

Já conhecia por fama O SANTO GRAAL, A LINHAGEM SAGRADA, originalmente publicado em 1982 por Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln, da leituras em críticas a outro famoso livro - O CÓDIGO DA VINCI (diz-se que Dan Bronw criou sua popular saga, com base na pesquisa de O SANTO GRAAL). Porém, na época, não encontrei esse título disponível, ainda que as prateleiras das livrarias tivessem multiplicado títulos sobre o mesmo assunto, a maioria livros posteriores que se dedicavam a encontrar "erros" no livro que se tornou tão popular, que até virou filme.

Mas dizem os esotéricos, o mestre aparece quando o aluno está pronto. Não tenho nenhuma justificativa esotérica para ter encontrado o livro "agora", mas essa explicação me parece tão plausível como qualquer outra. Talvez seja apenas que as prateleiras de sebo são mais objetivas em selecionar os livros bons para mim, do quê as mesas de lançamentos dos títulos novos. Ou não, vai saber? (leio em português, tradução de Nadir Ferrari, edição PocketOuro da Ediouro Publicações Ltda).

Controvérsias à parte, considerei a leitora de O SANTO GRAAL como uma continuação obrigatória para quem gostou do EUNUCOS PELO REINO DE DEUS, de Uta Ranke - Heinemann. Pois enquanto este último pesquisa sobretudo as adulterações do dogma na construção do poder da igreja católica, o GRAAL pesquisa a parte mais herética do mesmo conceito, nas entrelinhas dos fatos expurgados da história.

 O SANTO GRAAL, A LINHAGEM SAGRADA é uma extensa pesquisa, permeada de uma longa lista de hipóteses elaboradas, partindo de um curioso e até hoje inexplicável evento ocorrido no sul da França, na cidade de Rennes-Le-Château, envolvendo o padre Berenger Saunière.

A primeira vez que ouvi falar desse episódio, foi lendo a ficção de KATE MOSSE (que embora tenha lido, em algum lugar, que a autora escreveu uma trilogia, verdade que aqui na minha cidade só chegaram dois volumes: o SEPULCRO e o LABIRINTO, ambos ótimos!). E somando o que já li a respeito, fico sabendo que Rennes-Le-Château é uma pequena cidade francesa para onde, em julho de 1885, foi nomeado um pároco de nome Berenger Saunère, pessoa que indicava uma brilhante carreira eclesiástica, mas que, ao contrário, foi afastado para uma paróquia menor, quiçá  por desagrado ou controvérsia com algum superior.

Ocorre que, nos anos que se seguiram, Saunière enriqueceu muito além do quê seria o possível com seu parco salário de pároco. Diz-se que encontrou um tesouro, talvez dos cátaros, ou quem sabe dos templários. Com esse dinheiro surgido de forma milagrosa, o pároco fez reformou a igreja local, dedicada a Madalena, entre outros gastos que comprovavam seu enriquecimento surpreendente, além de proteger sua companheira, que apresentava-se como governanta. Saunière faleceu sem contar a ninguém seu segredo, e o mesmo o fez sua governanta. Além de Saunière, não se conhece outra pessoa que tenha encontrado ou usufruído do mesmo tesouro.

Deste episódio inicia a pesquisa de O SANTO GRAAL - e são muitas!

No livro, os autores fazem uma distinção curiosa: partindo do (conhecido) cisma entre os discípulos e Maria Madalena, registrado até nas escrituras, elaboram a hipótese de que, após o episódio da crucificação, o cristianismo ainda incipiente tenha se dividido em dois grupos distintos e mais das vezes rivais, a. que nomina "os seguidores da mensagem" e "os seguidores da linhagem".

Como "seguidores da mensagem", os autores identificam as figuras histórias que todos conhecemos (mas com alguns detalhes que não conhecemos...). São os evangelistas autorizados pelo poder oficial, os pensadores da teologia, os santos doutrinadores, os papas e as determinações da Igreja uniformizadas nos concílios.

Por sua vez, os "seguidores da linhagem" são pesquisados nos detalhes de documentos antigos, nas heresias cátara e templária, nos livros proscritos da igreja, alguns evangelhos apócrifos encontrados em sítios arqueológicos, publicações medievais monásticas posteriormente proscritas pela própria igreja, dados históricos das dinastias reais europeias e de sua linhagem, e claro, os costumes judeus da época de Jesus, que elucidam o verdadeiro significado de passagens cuja leitura é dúbia nos evangelhos oficiais.

Assim, o livro se torna obrigatório a quem interesse conhecer as principais heresias tão combatidas, a ferro e sangue, pela igreja medieval. Destaco, o conceito de que Jesus era um profeta humano (não um deus encarnado), as diferentes - e detalhadas - hipóteses de fraude na crucificação (que, assim como a entrada sobre um asno na cidade, eram parte de uma profecia judaica), a posição de Jesus como rabino em sua comunidade, e consequentemente de seu casamento - possivelmente com Madalena -, e de sua paternidade e posterior dinastia (ao contrário da castidade cerimonial, um conceito pagão inexistente na ortodoxia judaica da época).

Talvez porque nenhuma das hipóteses levantadas seja conclusiva, o texto foi construído com uma linguagem fascinante. A extensa bibliografia dos documentos pesquisados, assim como um resumo da biografia das personalidades citadas, foi deixada em anexos. Isso torna a leitura, quase um livro de aventuras, um texto linear, sequencial, apaixonante.

Também pertinentes as perguntas com que o livro encerra seu relato.
Hoje, a revelação de que Jesus era homem casado, com filhos, teria real importância? Os autores questionam se tal revelação não resultaria, para a maioria das pessoas, em um ombrear e a simples pergunta "E daí?".

Quer saber?
Concordo com os autores.
Talvez nos primórdios do cristianismo, quando até os imperadores romanos eram revestidos com uma aura divina, e a mitologia era rica e detalhada, fosse imprescindível dar ao messias as características de um deus. Mas hoje, nesta nossa sociedade pasteurizada pela ciência e pelo capitalismo, os mitos antigos perderam a força dos dogmas de fé. Algo a pensar...









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