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domingo, 7 de julho de 2013

LIVRE, de Cheryl Strayed

Quando comecei a ler LIVRE, A JORNADA DE UMA MULHER EM BUSCA DO RECOMEÇO, de Cheryl Strayed, lembrei de um episódio, uns dois anos atrás, quando uma professora que não simpatizava comigo e, ciente da minha paixão por literatura, fez questão de dizer em voz alta, para toda a turma reunida, do seu desprazer em ler "romances"  - imagine falado com aquele tom pejorativo, de puro tédio -, porque não conseguia entender qual a graça em ler uma história que não é "verdadeira", que conta algo que nunca aconteceu, é apenas a imaginação de um escritor. (Leio em português, na tradução de Débora Chaves, editado pela Editora Objetiva em 2012)


Pois LIVRE é uma literatura, que talvez agradasse até mesmo à aquela professora ranzinza que não gosta de fantasia.
Não é uma "história inventada", mas sim o depoimento da autora Cheryl Strayed sobre como, aos 22 anos, após a inesperada morte prematura de sua mãe, o distanciamento dos irmãos e um divórcio, decidiu fazer uma trilha de longa distância, a caminhada pela Pacific Crest Traisl atravessando a pé do Deserto do Mojave até o final do Oregon/EUA.

Quando era adolescente, existia um mote que a gente sempre repetia, quando tudo acontecia rápido demais para absorver tanta informação (normalmente, semana de provas...). A gente repetia, uma para as outras, PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER! Provável seja uma frase de Mc Luhann, ou de algum outro dos meus autores prediletos da época. A memória deletou a autoria, mas a frase eu nunca esqueci.

De fato, não é um livro de "fantasia". As tragédias da autora/personagem são trazidas pela memória, as aventuras estão dentro do que se poderia esperar dos riscos, esforço e perigos de uma trilha de longa distância. Ainda assim, é um livro envolvente, daqueles em que a gente confunde se está mesmo lendo, ou se não estamos nós/leitores, atravessando aquela trilha pensando também em nossos próprios problemas.

Perdi a conta do número de vezes em que "conversei" com a autora/personagem, como se pensasse duas coisas ao mesmo tempo, o que eu lia e as minhas próprias reflexões que se misturavam. Pelo menos uma vez, lembro de ter respondido a ela. Foi na parte em que ela tem a opção de continuar a trilha com outros trilheiros que conheceu no acampamento, mas prefere prosseguir sozinha, e é sozinha que estranha sua própria decisão. Foi uma (das várias) partes em que me identifiquei com a autora/personagem, e até comentei com ela (???) que na primeira vez que fui morar sozinha, uma amiga comentou que ia estranhar "como a gente pensa!", quando fica só, e como isso é verdade. Acho que também teria seguido sozinha... e segui, de certa forma, junto com o texto.

Mais de uma vez, fantasiei o que aconteceria, se simplesmente jogasse tudo para o alto, colocar uma mochila nas costas e sair caminhando. Porque, como a autora/personagem, também tive as fases da vida em que parece que tudo dá errado, e que reverter ou recomeçar será um esforço tão extenso, e será que vale a pena? Há uma carta do meu tarot que fala deste momento, quando caminhamos de mãos vazias em direção ao abismo (ou ao desconhecido). Nunca o fiz, mas lendo LIVRE, ficou a pergunta: quem eu seria "hoje" (ou quem seria "você"?), se tivesse mesmo colocado a mochila nas costas e partido?









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