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domingo, 9 de junho de 2013

INFERNO, de Dan Brown

Superpopulação! Nossa, a quanto tempo procurava um livro que abordasse, pela ficção, o tema da superpolução neste início de século XXI! É um tema "tabu"... Não é para qualquer pessoa, conseguir pesquisar sobre este assunto. E nunca soube de forma melhor de começar a pensar (e pesquisar) sobre um assunto "tabu", do que através da ficção.

Dan Brown tem a "receita" dos livros de ficção que começo a ler, e não consigo parar senão quando viro a última página (e com vontade de ler mais). Desta vez, não foi diferente. Um assunto muito atual e extremamente polêmico, misturado a obras e mais obras de arte renascentista ou medieval vistas pelo olhar simbolista de um historiador, e uma narrativa construída no clássico formato dos livros de aventura. Não resisto, não tem como. Comprei o livro pretendendo tê-lo como leitura por, pelo menos, uma semana. Li inteiro no mesmo dia, avançando até alta madrugada, sem conseguir dormir. Ainda bem que são poucos autores que conseguem me "pegar" deste jeito, senão como teria orçamento prá tanto livro? (Leio em português, na tradução de Fabiano Morais e Fernanda Abreu, edição de 2013 da Editora Arqueiro Ltda).

Será que vou infringir a alguma lei de direitos autorais ao transcrever um parágrafo do livro? Espero que não. É difícil parafrasear conceitos que estão bem sintetizados na fala de um personagem, na exata questão que tenho perguntado tantas vezes quais as consequências, quando penso no "futuro do mundo" entre uma atividade e outra.

Superpopulação...
O vilão da história (sim, é o vilão quem trata dos assuntos polêmicos, "tabu"... quem mais seria?) resume a questão, nestas palavras: " - Pense no seguinte: a população da TErra levou milhares de anos, desde a aurora da humanidade até o início do século XIX, para atingir um bilhão de pessoas. Então, de forma estarrecedora, precisou apenas de uns cem anos para duplicar e chegar a dois bilhões, na década de 1920. Depois disso, em menos de cinquenta anos, a população tornou a duplicar para quatro bilhões, na década de 1970.n Como a senhora pode imaginar, muito em breve chegaremos aos oito bilhões. Só hoje, a raça humana acrescentou outras 250 mil pessoas ao plane Terra. Um quarto de milhão. E isso acontece todos os dias. Atualmente, a cada ano, acrescentamos ao planeta um pouco mais do que o equivalente a toda a população da Alemanha." (obra citada, fls. 101).

E adiante: "Sabia que, se viver mais 19 anos, até os 80, verá a população triplicar ao longo da sua vida? Triplicar, no tempo de uma única vida. Pense nas implicações. (...) Espécies animais estão entrando em extinção num ritmo aceleradíssimo. A demanda por recursos naturais cada vez mais escssos é astronômica. É cada vez mias dífícil encontrar água potável. De acordo com o parâmetro biológico, nossa espécie já excedeu sua sustentabilidade numérica. (...) Qualquer biólogo ou estatístico ambienta. lhedirá que a maior chance de sobrevivência a longo prazo para a humanidade acontece com uma população de cerca de quatro bilhões de habitantes (...) " (obra citada, respectivamente fls. 102 e 105).

A Divina Comédia, de Dante Aligheri, interpretada pela tela do Inferno de Botticelli complementam meu fascínio no livro. Quantas vezes já me perguntei se a sensação de solidão da contemporaneidade não advém, diretamente, da superpopulação? Se informação demais "emburrece", porque gente "demais" não poderia nos isolar? O paradoxo dos extremos, que faz com que coisas opostas se tornem a mesma coisa.

É um livro que faz pensar.
Não acredito que alguém possa olhar o gráfico do crescimento da população mundial ao longo da história (obra citada, fls. 103), ou o dos indicadores negativos do grau de poluição humana na terra (obra citada, fls. 136), sem parar para pensar sobre o futuro que nos aguarda. E para exercícios de futurologia, em uma previsão algo macabra, o quê melhor que a ficção?

O pior foi constatar que é um dos livros em que me identifiquei mais com o vilão, do que com os heróis. Li o livro feliz em pensar que a decisão sobre o quê é possível fazer, passa muito longe das minhas responsabilidades. Mas a solução encontrada pelo cientista-vilão, considerados todos os parêmetros, é de ser pensada: realmente uma catátrofe? Ou não seria mesmo uma solução indolor e satisfatória? Acordei no dia seguinte ainda sem uma opinião formada, mas feliz em ter lido um livro que reflete minhas indagações.