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domingo, 21 de abril de 2013

HOJE EU SOU ALICE, de Alice Jamielson

Toda vez que vou me referir a este livro, procuro de novo a orelha e leio mais uma vez, só para certificar: é mesmo um relato autobiográfico.

Até ler HOJE EU SOU ALICE, NOVE PERSONALIDADES, UMA MENTE TORTURADA, de Alice Jamielson com Clifford Thurlow, só tinha visto o transtorno de múltipla personalidade, em filminho americano em série de TV (leio em português na tradução de Andréa Gottlieb de Castro Neves, 1ª edição brasileira da Editora Larousse, 2010). Ou seja: sempre era uma história ficcional, sempre era uma atriz, as personalidades como personagens.

Acrescente a isso que o texto "parece"um romance. De fato, é um depoimento, todo narrado na primeira pessoa. Uma história que se desdobra aos poucos, adentrando as falhas de memória, com um efeito de suspense.

O texto inicia com um prólogo, quando Alice Jamielson nos conta que foi diagnosticada com transtorno de personalidade múltipla, também conhecido como transtorno dissociativo de personalidade, em abril de 1993, quando tinha 24 anos. Ela foi vítima de abuso sexual na infância, e com o trauma desenvolveu nove personalidades distintas, que se altenaram no controle de sua vida. Conta ainda que aceitou escrever sua história, tentando ajudar as milhares de crianças que como ela, vítimas de abuso sexual, precisam lidar diariamente com o sentimento de vergonha que carregarão pela vida afora, e, como diz, "(...) o medo de que a porta sea aberta e o homem - quase sempre é um homem -, entre em seu quarto. (...)"

Mas todos os avisos, nas orelhas e no prólogo do livro, não são suficientes para que se perca a sensação da leitura de um livro de suspense.
O começo, inclusive, lembra livros de Stephen King, aqueles que começam com uma vida normal e tão absolutamente corriqueira, que até parece que somos nós mesmos em nosso cotidiano frustrado ou entediante, e aos poucos, quase sutil, chega a presença sinistra, as situações atemorizantes, o perigo, e então o verdadeiro terror se instala. Pois é assim que começa HOJE SOU ALICE, descrevendo a "(...) típica família dos programas de rádio: conservadores, observadores das boas maneiras, educados, prósperos, um pouco antiquados, mas sempre conservando a aparência de simpáticos e gentis (...) numa área abastada das Midlands, onde os vizinhos davam bom dia, as crianças eram bem educadas e todos mantinham seus cães sob controle.", e tão leve como uma brisa, a paisagem idílica desvanece, um tantinho por vez, a normalidade escorrendo pelos dedos como água de torneira, até a internação, o hospício e o confronto com a realidade cruel.

Mas aqui em casa, o livro também teve sua história pitoresca. Depois que eu o li, achei que minha filha (que é psicóloga, conhecia a história mas não tinha lido o livro) iria gostar.
Emprestei, e ela, sempre cheia de compromissos, acabou levando o livro na bolsa para um Congresso de Psicologia que ia assistir naquela semana.Disse, depois, que as palestras daquela manhã estavam chatas. Ou será o livro que era muito interessante? O que sei é que, escondidinha no meio de tanta gente na platéia, resolveu dar uma palhinha, ler "só um pouquinho"... Logo o palestrante não era mais do que um som ao fundo, tão centrada na história que nem sabia mais o que estava sendo dito, o tempo passando. Até que todos riram, e quando levantou a cabeça para ver qual a piada descobriu-se o centro das atenções, tanta concentração era a atração do momento. Titubeando, no meio dos muitos colegas psicólogos, o jeito foi sair com a desculpa mais velha da história da psicologia: "... culpa da minha mãe! Foi ela quem emprestou o livro."




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