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quarta-feira, 20 de março de 2013

MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS, de Clarissa Pinkola Estes

Este é meu livro de cabeceira, há muitos anos. Eu o comprei por indicação de uma colega de faculdade, que reencontrei no trabalho depois de muitos anos. Acredite se quiser: comecei a ler, empaquei logo no começo, e o livro talvez tenha passado um ano ou mais na estante, sem que o abrisse novamente.

MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS é um trabalho de pesquisa e análise junguiana, que Clarissa Pinkola Estes faz sobre 19 contos, alguns reformatados pelos irmãos Grimm, outros populares, todos pesquisados desde a origem como contados pela tradição oral, em vilarejos distantes e comunidades afastadas. Eu o considero como uma "bíblia" para a mulher criativa, que desenvolve alguma linha de arte (música, poesia, pintura, dança, teatro, etc), profissionalmente ou não, e recomendo sua leitura a todos que me perguntam por onde começar a estudar ou entender a vinculação entre as narrativas, o simbolismo e a psicologia.

Em uma época tão consumista, pode-se dizer que seja um livro antigo... O original é de 1992, chegou no Brasil no final da década de 90 (estou sem o volume aqui... depois complemento este post, com o nome da tradutora e os dados da edição que possuo).

Interessante que, em seu lançamento (aqui no Brasil, bem entendido), o livro era considerado como "feminista", e foi publicado e divulgado junto com uma leva de outros títulos bastante populares, destinados às mulheres "modernas e independentes". Porém, os anos passaram. E quase uma década depois, para minha surpresa, eis que encontro o livro de Estés vendido na prateleira de "auto ajuda". Importante dizer que na primeira "febre" dos livros de auto-ajuda, era possível encontrar muita coisa interessante e bem estudada, vendida sob tal catalogação.

Este ano, fui atrás de mais um volume do livro, para dar de presente. Agora, eu o encontrei na seção de "livros técnicos de psicologia", e confesso que achei engraçado. Talvez porque o livro seja tudo isso, dependendo de quem o lê. Ele é um livro "feminista", na medida em que motiva e incentiva a mulher a encontrar o seu lado "selvagem", criativo, forte, protetor, rebelde, tanto quanto exorta cada mulher a expressar criativamente as suas emoções, seja plantando o mais belo jardim, escrevendo poesias, pintando, cantando, ou qualquer outra forma de arte. Mas também é um livro de "autoajuda", se o lemos com empatia e com o coração e alma abertos ao aprendizado. E sem dúvida é um livro "de psicologia", pois Estés é uma PH.D. em análise junguiana, que são utilizados para um estudo profundo de cada um dos dezenove contos analisados, todos correlacionados com casos práticos, e que nos remetem à utilização do arquétipo ao sentido da vida individual. Neste último parâmetro (e respeitadas as diferenças), o trabalho de Estés segue a mesma linha de análise narrativa, dos livros de Campbell (O PODER DO MITO, entre outros): primeiro a narrativa mitológica, depois a análise psicológica, por fim a inserção do mito na vida cotidiana.


O livro inicia com uma pequena introdução, e depois a análise do primeiro conto, o Barba Azul.
E foi exatamente neste primeiro conto que, na primeira leitura, eu parei e nem sei direito dizer qual motivo. Só tempos depois, ouvi algum outro comentário e lembrei do livro esquecido na estante.
Desta feita, fiz diferente: pulei o primeiro conto do Barba Azul, e reiniciei a leitura a partir da análise do segundo conto. Foi como se janelas imensas abrissem para mim, não consegui mais largar o livro até terminar a última página, e ainda voltar para ler o primeiro conto que tinha pulado (e que, desta feita, li inteiro sem problema algum...). O curioso é que, nos anos que se seguiram, encontrei outras mulheres que também leram e amaram o livro, mas que tiveram exatamente a mesma dificuldade: só conseguiram pegar o ritmo de leitura, quando começaram a ler, a partir do segundo conto, deixando o tal Barba Azul por último. Nenhuma de nós soube explicar o porque. Ficou a incógnita!

Meu volume é até engraçado... Verdade que tenho a mania de fazer algumas poucas anotações nos livros que mais gosto, para achar esse ou aquele pensamento do autor, rápido, em uma segunda leitura. Sim, gosto de reler meus melhores livros, mas então o faço em pedaços, selecionados ao gosto do momento. Às vezes, marco uma frase ou aponto um parágrafo. Às vezes, colo um marcador adesivo colorido, para poder abrir direto na página que já sei que vou reler. Se a idéia é engraçada, desenho um smile sorrindo. Ou marco pontos de exclamação, para aquilo que é um aprendizado surpreendente.

Em MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS, parece que fantasiei o livro prá pular carnaval... Hà anotações à lápis, inúmeros marcadores adesivos coloridos, itens e mais itens. Nem sei porque marquei tanta coisa, porque quando estou desanimada e precisando de consolo, meu prazer é abrir o livro ao acaso e reler o que a sorte indicar. A pesquisa de Estes é tão extensa, e sua análise tão profunda, que cada releitura acaba por trazer novas associações.

O que me fascina no trabalho de Clarissa Estes, é a forma como ela rejeita os padrões de beleza e "sucesso" (não encontrei termo melhor...) da mídia contemporânea, e segue fundo para arquétipos que falam na alma feminina. Os lobos, significando a natureza rebelde e selvagem, são uma imagem poderosa. Mas também o "cantar sobre os ossos" ao se referir aos mistérios da vida e da morte, o "clã das cicatrizes" sobre o valor da experiência de vida, a forma como aborda a velhice como um momento de sabedoria e conhecimento, seu enfoque da alegria de viver, e dos cuidados necessários com os "predadores" violentos e perigosos que espreitam as mulheres, e de como identificam suas vítimas. Em cada conto, em cada análise, um pouco de sabedoria. Este é o livro que eu recomendo... mas nunca empresto, jamais sai da minha casa, de seu lugar seguro na estante.






Complementando: leio o livro MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS em português, na tradução de Waldéa Barcellos, editado pela Editora Rocco, Rio de Janeiro em 1999, 12ª edição da coleção Arco do Tempo.




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