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quarta-feira, 6 de março de 2013

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DO SÉCULO XXI

Vou falar de... NOVELA, acredita?


Mas eu queria agradecer aos autores de LADO A LADO, uma novela que passa na Rede Globo de Televisão e está na última derradeira semana, pelo trabalho primoroso.

Novela de
João Ximenes Braga
Claudia Lage
Escrita com
Chico Soares
Douglas Tourinho
Fernando Rebello
Jackie Vellego
Maria Camargo
Nina Crintzs
Supervisão de Texto
Gilberto Braga

Vi muito pouca divulgação sobre essa novela. Algo que lamento, porque foi um trabalho muito bonito, levantou temas importantíssimos para compreender a contemporaneidade, e merecia mais divulgação/discussão do que efetivamente recebeu.
(site oficial, prá quem quiser conferir: http://tvg.globo.com/novelas/lado-a-lado/creditos.html)


Há muito tempo não assistia novela.
Em parte, porque mamãe faleceu... Durante anos, assistirmos juntas a alguma novela para comentar nos telefonemas diários, era parte da nossa rotina. Gostava especialmente das novelas de época (como é o caso do Lado a Lado), porque traziam as lembranças da juventude dela, e comentários muito peculiares.

Lembro da vez em que deu risada de uma personagem de época que pegava o ônibus para ir a algum lugar do Rio de Janeiro: naquela época, não haviam ônibus, só trem. Da saudade dela dos vestidos balão com sapato de boneca e meias três-quartos, das aulas dadas nas escolas rurais sempre distantes, dos cursos de férias na capital. Também haviam as lembranças do tempo de guerra, de quando minha mãe se voluntariou para servir de enfermeira e lutar contra o demoníaco Hitler, e vovô proibiu terminantemente, restrição que ela só iria entender no fim do conflito, quando toda a cidadezinha de interior onde então morava se mobilizou para a festa de chegada de seus "heróis-soldados", a banda no coreto tocando a todo vapor, bandeirinhas enfeitando a estação de trem, a expectativa de toda a pequena população...e então o trem chega, para, abre as portas... e uniformizados, descem os aleijados, homens com braços e pernas faltando, e pior ainda, os ostensivamente loucos dando risadas histéricas, e tudo o que mais de deprimente se possa imaginar dos cacos humanos que a guerra devolve.

Conversávamos tanto!
A novela, nada mais que um pretexto.
Depois que ela faleceu, olhei as novelas como mera distração, e nenhuma me interessou.


Não que não goste de novelas.
Na verdade, acho que tanto novelas como minisséries, tem sua função, e podem ser uma forma divertida de aprendizado e de discussão de temas sociais e/ou polêmicos.
E não acredito que SÓ o meio de comunicação - no caso, TV aberta -, por si só possa ser eleito razão suficiente para endeusar ou menosprezar qualquer trabalho. Sempre achei bobagem querer um julgamento único e final a um trabalho artístico, pior ainda se o único critério é seu sucesso de público.

Mas... há anos não as assistia.
Porque o enredo não interessou, porque cansava de ficar no sofá, porque... porque...

Mas neste fim de ano, usufruindo das minhas curtas férias, ligo a televisão esperando o jornal local que começa em seguida.
E lá está, na novela de época: início do século XX, e a jovem... DIVORCIADA?
Como assim?
Erro crasso, não há "divórcio" nesta época!
Existe, sim, o desquite, e é outro regime jurídico, diferente...

Fiquei tão brava com o erro, que passei a ligar a televisão mais cedo, para conferir se o erro era mesmo um erro, ou se não fui eu a escutar errado.
Pois bem: havia escutado certíssimo, e o equívoco foi repetido várias vezes. Minha filha comentou que houve até manifestação "facebook" sobre a mesma questão.

Porém...

Até agora, penso se não foi proposital, um erro prá chamar a atenção de pessoas... como eu.
Porque desde então, passei a assistir a tal novela, encantada com o enredo, com o figurino, com a forma delicada de tratar questões tão polêmicas, posições tão extremadas na época que repercutem até hoje na sociedade, sutil mas igual. Feminismo, escravatura, preconceitos de todos os tipos, carnaval e cordões de rua, o início das favelas, o (sempre difícil) saneamento básico, o abismo das classes sociais.

E o que é aquele guarda roupa da Camille Pitanga/Isabel?  PURO ART NOUVEAU, que coisa maisssss linnnndaaaa, eu babo de olhar! Ah, sim, tbém quero um teatro prá mim. Um teatro pequeno, com atores dramáticos no palco e na vida real!



(do figurino, veja também http://tvg.globo.com/novelas/lado-a-lado/Fotos/fotos/2012/11/poderosa-isabel-volta-da-europa-ainda-mais-linda-e-com-visual-repaginado.html, e ainda http://tvg.globo.com/novelas/lado-a-lado/Fotos/fotos/2013/01/isabel-danca-para-constancia-e-revela-todos-que-ex-baronesa-roubou-elias-quando-era-bebe.html)


E nesta última semana, pasmem, lembraram até dos hospícios!, a sentença de morte branda tão comum para a época. Assisto, lembrando de Camille Claudel, 30 anos confinada aguardando a morte, ela como tantas outras mulheres de alma livre e opinião forte. Lembrei também de Nise da Silveira, e do trabalho no Museu do Inconsciente.

Mas não é fácil chegar a tempo de assistir ao capítulo. A novela passa no horário das seis, mas "seis" é o horário mais cedo que consigo terminar meu expediente aqui no escritório. E ainda tenho que voltar prá casa! É uma novela prá conseguir assistir a novela. Uma desculpa e um jeitinho de sair minutos mais cedo, correndo pro ponto de ônibus e torcendo prá não encontrar nenhum engarrafamento pela frente, descer atropelada as quadras até em casa e, com sorte, ainda pego a parte final da novela.
No fim, é divertido, inusitado.
Foi um jeito delicioso de começar cada noite.
E porque não?




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