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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Um autor: CARLOS RUIZ ZAFÓN


 

Em 2012, descobri Carlos Ruiz Zafón. O primeiro que li, foi A SOMBRA DO VENTO (Ed Summa das Letras, tradução de Márcia Ribas), ainda no primeiro semestre do ano. Chamou a atenção o selinho impresso “Mais de 6.5 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo”, um indicador razoavelmente preciso para um livro que vou gostar de ler (com exceções notáveis, como o tal “Comer, amar & rezar” e o primeiro volume da trilogia dos tons de cinzas, em ambos joguei dinheiro fora: comprei o livro, fiz o maior esforço prá ler, mas não consegui chegar na centésima página e desisti, vencida pelo tédio).

Também dei uma espiada na orelha, antes de comprar, é claro. Lá estava escrito, na sucinta sinopse, “(...) leva-o até o Cemitério dos Livros Esquecidos, uma biblioteca secreta que funciona como depósito para obras abandonadas pelo mundo à espera de alguém que as descubra.”

Uma escritora à procura de leitores, quase desmotivada de tanto escrever para gavetas, consegue resistir à imagem de um Cemitério de Livros Esquecidos? Bom, eu não consegui. Foi o livro que levei prá casa, li em uma sentada, naquele misto de admiração e uma pontinha de inveja, que a idéia foi de Zafon, e não minha...

São os mais de seis milhões de leitores que me dão certeza de não ser suspeita para elogiar o livro. Mas confesso: eu o li, fascinada com a idéia, com vontade de descobrir onde é o tal lugar secreto do Cemitério dos Livros Esquecidos, quase determinada a colocar ali também os meus. Alguém os descobriria? Meus livros seriam o início de uma aventura, como ocorre com os personagens de Zafón?

Mas o gostoso de descobrir (e se identificar com) um autor que já é reconhecido, é que posso terminar de ler um livro e correr à livraria em busca de outros volumes do mesmo autor! Neste caso, foi amor à primeira vista, com direito a mais três encontros apaixonantes: li em seguida O JOGO DO ANJO (Editora Objetiva, em edição de bolso, coleção Ponto de Leitura, tradução Eliana Aguiar), e PRISIONEIRO DO CÉU (Editora Summa das Letras, tradução Eliana Aguiar), todos continuações da Sombra do Vento, e eu quase me sentindo parente por afinidade dos personagens do livro. Adoro a sensação de retornar à uma nova história, continuação de outra que eu já li. Sou uma destas leitoras tolas, que fala sozinha com os personagens para perguntar, cada início de uma nova história, como passou o tempo desde que nos encontramos no livro lido, antes ainda de me envolver na nova aventura em que vamos embarcar. Fiz isso em toda a série Darkover da Marion Zimmer Bradley, nos livros de bruxas e vampiros de Anne Rice, e repito qual um ritual, toda vez que me defronto com mais uma série apaixonante. Se no primeiro livro que leio de um autor tudo é novidade e expectativa, do segundo em diante já me sinto parte da família.

E neste começo de ano, que felicidade, re-edição de MARINA (Editora Summus das Letras, tradução de Eliana Aguiar). Na nota do autor, Zafon explica que o romance esteve em disputa de direitos autorais por muitos anos (a primeira edição é de 1999), e que foi originalmente escrito e publicado como livro juvenil, mas que ele próprio tem a esperança de que tivessem apelo para gente de todas as idades. Será que lhe escrevo, dizendo que até na "meia idade" (eu!) também se festeja o livro?

As histórias são interessantes. Mas o que realmente prende a atenção é a forma como Zafon constrói a trama, crescendo devagar até enormes suspenses a partir de informações ou circunstâncias quase banais. É um daqueles autores que partem da realidade cotidiana em direção à fantasia, tecendo aventura em torno dos segredos dos personagens que cria, naquele vácuo imerso de criatividade que existe entre o que aconteceu, o que não se sabe se aconteceu, e a pura fantasia do que não aconteceu mas poderia ter acontecido. Acho que foi muito fácil, como leitora, criar empatia com esse tipo de narrativa, porque é um espelho da meu/nosso cotidiano, onde tão difícil discernir a realidade da fantasia, a promessa eleitoreira da intenção política, a tragédia anunciada do ocaso infeliz. Estamos todos afogados na realidade triste e manipuladora das mídias. Estou sempre perguntando qual a verdade por trás da demagogia das matérias jornalísticas. Zafón escreve como quem vê a realidade por uma câmera de segurança da loja, fixando os detalhes de uma realidade fantástica cheia de referência ao cotidiano que conhecemos, mesmo que seja por resquícios persistentes de um passado recente.

Agora, fico torcendo para encontrar um quinto livro do mesmo autor. E para, mais uma vez, deixar a realidade do lado de fora da porta do quarto, e mergulhar por mais algumas noites pelos corredores escuros do Cemitério dos Livros Esquecidos e andar nas ruas sombreadas de histórias da velha Barcelona.

 
(Capa do livro MARINA, Editora Summus)
 

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