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domingo, 3 de fevereiro de 2013

O ORFANATO DA SRTA PEREGRINE PARA CRIANÇAS PECULIARES


O ORFANATO DA SRTA PEREGRINE PARA CRIANÇAS PECULIARES, de Ransom Riggs. Autor RAnsom Riggs, traduzido por Edmundo Barreiro e Márcia Blasques, editado no Brasil pela Editora LeYa, e eu o comprei e li em 2012.
 
Exposto nas Livrarias Curitiba, o livro chamou a atenção por mais de uma razão. Já estávamos da metade para o fim do ano de 2012, e acompanhava com curiosidade o trabalho de conclusão do Curso Superior de Escultura de uma colega, a Vanessa Loiola, que expôs sob o título “A Posteriori” (vide: http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1313775&tit=Exposicao-mostra-mortos-fotografados-como-se-estivessem-vivos-). O trabalho foi considerado controverso, pois construído a partir de uma extensa pesquisa de fotos de mortos do fim do século XIX, no costume de época de retratar os entes queridos logo após o falecimento, vestidos e maquiados como se ainda estivessem vivos entre os familiares sobreviventes. E foi bastabte criticado, durante sua construção, fosse porque considerado mórbido, ou por sua clara referência narrativa “pouco contemporânea” (?). Mas eu torcia por este, chamava minha atenção porque, ao contrário da ostensiva maioria dos alunos-artistas, ela não se preocupou em repetir discursos politicamente corretos, tampouco em fazer a arte abstrata quase decorativa, ou da agressividade tão acondicionada e previsível que se vê como ponto comum em qualquer exposição acadêmica.
A outra razão, foi a frase simples de Tim Burton, colocada na contracapa do livro na forma de pergunta: “Vocês tem certeza que não fui eu quem escreveu esse livro? Parece algo que teria feito...”. Foi quando folheei o livro, que é impresso em uma diagramação diferente e algo antiquada, cheio de fotos em preto e branco e inequivocamente do século passado. Não resisti. Além de admirar Tim Burton, tenho procurado por trabalhos que reúnam texto e imagem, e que não sejam simplesmente histórias em quadrinhos, procurando uma forma compatível comigo para desenvolver meu próprio trabalho. Já excluí idéias boas na teoria e fracas na prática, porque alguém tentou isso antes e não gostei do resultado. Sempre achei que aprender com a experiência alheia, sai mais barato e dói menos. Então, comprei o livro, trouxe para casa na expectativa de ler algo original, diferente, curioso.
Esta foi uma das melhores compras que fiz no ano passado, e o primeiro livro que li que REALMENTE intercala texto e imagem. Como informa o autor, no final do livro, “(...) todas as imagens deste livro são fotografias antigas autênticas e, com exceção de algumas que passaram por leve tratamento, não foram alteradas.”. Segue uma relação dos colecionadores, proprietários de cada uma das imagens singulares e curiosas. Sobre essa coleção de fotografias curiosas, muitas delas visíveis experimentos das possibilidades de efeitos especiais ainda em sua fase primeira e rudimentar, Rasom Riggs cria uma história de fantasia sobre pessoas com poderes especiais e uma nesga no tempo, absolutamente fascinante.

O entrosamento texto & imagem, é surpreendentemente simples e (para mim), novo. Primeiro, os personagens são descritos dentro da narrativa. Só depois, a gente encontra a foto. Não é uma ilustração do texto. Ao contrário, no ritmo da narrativa, a gente relê na imagem, do quê já conhecia do texto. Fiz, com prazer, o que se previa: a cada foto, eu voltava no texto, relia o que foi escrito, voltava e comparava com a imagem. E assim, cada fotografia se transformava em uma janela da imaginação, porque nunca nos contentamos em ver apenas aquilo que nos indica o autor, mas fazemos da obra lida a referência para um número infinito de associações.
Alguém pode explicar porque quando algo nos fascina, tudo parece acontecer com uma sincronia espetacular? Poucas semanas depois de terminar o livro, minha filha trouxe o filme A INVENÇÃO DE HUGO CABRET (Martin Scorcese, 2012) para assistirmos juntas. Fiquei fascinada. Era a mesma época, o mesmo contexto de imagem, uma imersão no passado. Depois de livro mais filme, quase saí atrás de uma máquina fotográfica antiga, quase investi um dinheiro que não tenho só prá fazer um estúdio de revelação de fotografias preto e branco em algum canto perdido da casa. Sonhei por uma semana a fantasia de que, na “encarnação passada”, fui atriz de algum filme de Meliers, que vivi naquelas casas vitorianas antiquadas. Retomei o desejo de reformar a casa, acrescentar um sótão, instalar ali uma escrivaninha baixa e escrever poemas a bico de pena. Queria ser uma criança peculiar. Queria viver numa fenda do tempo. Queria viajar com um foguete de teatro até uma lua falsa. Queria um autômato para colorir meu coração.
(Nunca vou entender como alguém vive sem fantasia.)

Capa do livro (no Brasil, Ed LeYa)
 

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