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domingo, 4 de novembro de 2012

Manual de Sobrevivência para o Século XXI

... porque vou precisar de um Manual de Sobrevivência para envelhecer no século XXI.

Acho que entrei naquela fase em que minhas certezas se esvaíram, e as dúvidas aumentaram na mesma proporção. Já perdi a conta das vezes em que precisei aprender de novo aquilo que já sabia, não interessa se são as (novas) senhas do cartão de débito/crédito/lojas/etc, ou a (nova) interface de algum (novo) eletrônico.

Mas apesar dos esforços intensos para manter uma placidez bovina e receber o admirável mundo novo com tranquilidade, parece que só consegui o efeito inverso... É como sentar sobre um barril de pólvora para acender um cigarro. Tento ignorar, mas fico presa entre o tédio e a ansiedade, num círculo vicioso.

A idéia do Manual de Sobrevivência foi surgindo devagar, porque preciso encontrar forças para colocar em ordem a miríade de pequenas coisas acumuladas por décadas e duas gerações, decidir o que ficará porque é importante como documento ou lembrança, e do que preciso me desfazer. E foi assim que percebi como os costumes mudaram em tão pouco tempo. São coisas pequenas, mas fazem tanta diferença!

Agora penso nisso, porque quero uma maturidade sábia, tranquila, lúcida, inteligente, produtiva.
Constatar essas pequenas coisas, são exercícios de lucidez?

Então, minha PRIMEIRA LIÇÃO DE LUCIDEZ, é constatar como essa década produz lixo, e acumula lixo! E eu não estou falando dos lixões a céu aberto, da poluição ambiental, das épicas discussões de fóruns mundiais.
Estou falando aqui da minha casa mesmo, dos guarda roupas lotados de eletrodomésticos antigos e quebrados. Daqueles que foram usados por décadas, e quando finalmente quebraram, já não existia mais peça de reposição. Daqueles que foram usados por anos, e quando quebraram, custava mais caro o conserto do que comprar um produto novo, porque estes já eram da geração descartável, com tempo de uso programado... e curto. E daqueles que nem mesmo chegaram a estragar, mas se tornaram obsoletos e precisei substituir por uma (nova) tecnologia. Eu os olho empilhados, no canto de um guarda roupa, à espera do descarte, e penso quão poucos comprei porque desejava o produto, quantos dele me obriguei a comprar porque eram necessários às transições para a vida "moderna".

O acúmulo é outra questão...
Pretendia começar mais esse ciclo de limpeza "de armários", juntando e descartando esses produtos. A tarefa não é tão fácil quanto parece. Há descartes "especializados" para cada produto, em lugares e com equipes diferentes. Alguns dependem da minha iniciativa: roupas, pilhas, baterias, remédios vencidos, esses eu mesma tenho que levar onde quer que seja o lugar de descarte. Os de maior peso, eletrodomésticos, dependem de agendamento de horário para buscar. Nem precisa comentar que o agendamento é por internet, e nos mesmos horários em que estou trabalhando. Por isso, o acúmulo de eletrodomésticos desativados não é nenhum apego emocional, mas a simples impossibilidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo: trabalhando como preciso, e ao mesmo tempo em casa e à disposição dos horários das equipes de reciclagem.
Conclusão?
Pois é: os armários continuam lotados de bugigangas.

Deixei os eletrônicos onde estavam, para atacar outro acúmulo incomodativo: recibos guardados há mais de cinco anos. Este é outro canto de armário difícil de arrumar. Tinham os documentos do meu pai, que mamãe teve dificuldade em mexer quando se tornou viúva. Então, quando ela mesmo faleceu, sobraram os documentos do papai, da mamãe, junto com os meus, mais os recibos de pagamentos de zei láh quantos anos, manuais e garantias de todos os aparelhinhos comprados no período, separados, guardados e na verdade misturados, em mais pastas, envelopes, caixinhas e saquinhos plásticos, do que fui capaz de contar.
Passei um dia inteiro de feriado selecionando documentos, o que fica, onde fica, o que vai. Cansativo? Não, extenuante.
(E como brinde, ainda mais uma bronquinha da filha, porque deixei a reciclagem prá lá, coloquei a papelada na churrasqueira e tasquei fogo. Agora, me digam: onde ainda iria achar uma picotadora de papel? E o quê pode acontecer, com recibos, talões de cheques vencidos e documentos extraviados por aí? Foi um fogaréu bonito. E sobrou pasta vazia. UFA!)

Vou lembrar disso, a partir de agora, cada vez que me sentir tentada a comprar outra bugiganga, outro bibelô, outro eletrônico prometendo a porta de entrada para um novo mundo.
Vou lembrar dos armários lotados de produtos obsoletos, e da dificuldade em descartá-los.



Detalhe rosto/argila - contraste em paint -
ELAINE NOVAES FALCO em 2012

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