Total de visualizações de página

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011


Ninguém sabia, exatamente, que era um escritor.
Ele não escrevia histórias, escrevia pessoas.
Somente pessoas.
Somente pensamentos,
 aqueles mais loucos,
que assaltam a gente no fim das noites,
 na solidão das praças,
 no canto dos olhos onde se aninham as lágrimas.
Talvez ele não fosse mesmo um escritor,
apenas alguém que aprisionava pequenos momentos.
(Confissões, Elaine Novaes Falco, 1998).




terça-feira, 20 de dezembro de 2011

ONDÉ-KI-EU-TÔ?

Todo ano, para a ceia de Natal, minha filha faz um delicioso prato com camarões. Todo ano, compramos os camarões ali na peixaria do Centro Cívico. E todo ano, ganhamos um calendário, com fotos da cidade (créditos do calendário: concepção de Flávio Henriqe Soethe, fotografias de Hermes A. Soethe, impresso pela Optagraf Editora e Gráfica). Todo ano, espero por este calendário. E nesse ano, preparei a adorável hipopótama Blanziflor - meio perdida, coitadinha, mas ela é desajeitada msm, vcs compreendem - mostrando no globo kdê essa terrinha que eu tanto gosto.

Teatro Guaíra, Curitiba/2011.
 Construção dos anos 1950/60, fachada com painel de Poty Lazarotto, é um dos maiores teatros da América Latina.


Museu Oscar Niemayer - MON -, Curitiba/2011.
Cartão postal da cidade, conhecido como "O OLHO" (mas um amigo me contou que a concepção de Niemayer, era o arco de Diana, a caçadora... Vai saber?). Grandes exposições de arte ocupam as amplas galerias. Destaco da temporada/2011, a exposição DE VALENTIM A VALENTIM, com escultura brasileira, que eu simplesmente AMEI!


Praça do Japão, Curitiba/2011
A cidade tem várias praças temáticas, homenagem da cidade à diversidade cultural. Esta é dedicada à colônia japonesa.

Largo da Ordem, Curitiba/2011.
Setor histórico da cidade, com direito até a pinheiro, ao fundo!


Jardim Botânico, Curitiba/2011
O parque construído por Jaime Lerner, tem ao centro uma estufa de 500m2 inspirada nos palácios de cristal ingleses.

Televisões, computadores, celulares... A vida em caixinhas?


Hoje conversei com Cosimo, que está preparando para contar a sua história, logo depois que HaimiaH terminar de escrever a dela. Ele é aventureiro e corajoso, o bastante para andar no mundo, percorrer esta época de transição, enquanto eu permaneço quieta na solitária casa das montanhas, onde optei ficar ao final da minha história, segura, aquecida pela madeira ardente que queima lenta na rústica lareira.
Cosimo é Filho do Sol, cresceu nas amplas planícies cobertas de mata virgem, planando entre as montanhas. Penso que ninguém mais do que ele, estranha o confinamento voluntário das pessoas que vivem neste século tão prepotente por suas conquistas tecnológicas.
Tomamos vinho fresco e quente, enquanto ele tentava fazer com que entendesse a lógica pela qual pessoas compram coisas, preocupadas em como farão para comprar novamente aquilo que já estão comprando naquele momento. Contou que o deus desta época, eles o chamam “ciência”. É venerado com a mesma fé cega que move o mundo desde sua origem. Mas não é diferente de todos os outros deuses que o precederam: também este promete a imortalidade com juventude eterna e a cura de todas as doenças, e também este promete um estado de infinita felicidade inatingível aos humanos por sua própria essência. E como todos os deuses, também este cobra caro e antecipadamente, por cada uma de suas promessas.
Este deus aprisionou a magia em caixinhas. Milhares e milhões de diferentes caixinhas, de diferentes tamanhos, de diferentes funções, continuamente fabricadas e sucessivamente vendidas a preços variados. E para honrar seu deus e viver nesta época, todas as pessoas precisam, obrigatoriamente, trabalhar exaustivamente para ter dinheiro para comprar várias caixinhas, que nunca são suficientes, é sempre necessário comprar mais e mais novas caixinhas, ininterruptamente. Nenhuma caixinha, jamais, leva o nome de seu dono, porque perdem parte de seu valor no exato momento em que passam a pertencer a alguém. Há lógica nisso: porque dar nome a algo que vai perder o valor, exatamente porque se tornou parte da vida de alguém? Assim, as caixinhas possuem apenas nomes genéricos, o mesmo nome para muitas caixinhas iguais, reproduzidas e vendidas em série, um número enorme. E quando foram vendidas, todas aquelas que se queria vender, surgem novas caixinhas, e as antigas caem no esquecimento para não mais existir. Eles as chamam de televisões, celulares, carros, geladeiras, câmeras, as identificam por funções ou por siglas, e as usam para ouvir, falar, sentir, guardar coisas e informações, e transportar-se de um lugar para outro. A vida, dentro de caixinhas. Cada caixinha promete a felicidade de um momento, e uma felicidade maior ainda na compra da próxima caixinha. É preciso acreditar no futuro, um futuro que vem a conta-gotas, uma gota em cada caixinha. E eu pensei: uma gota que é bebida em êxtase por pessoas que morrem de sede, porque se esforçam tanto para adquirir caixinhas, mesmo sabendo que nada do que adquirem pode durar ou manter seu valor. Como todos os deuses, também este é um deus cruel.


JÁ TENHO 29 - VINTE E NOVE! - AMIGOS!

Existo no mundo há menos de um ano. E já tenho VINTE E NOVE amigos! Vcs não tem idéia do quanto isso é importante para mim!
Quando um escritor termina de contar a sua história, nós – personagens – vivemos um momento traumático. É o fim daquela relação intensa, quase umbilical e perfeita, sintonia com mais uma única pessoa, construída no útero da solidão criativa. E é o início de uma jornada incerta, que tanto pode significar a própria existência, quanto o esquecimento cruel das histórias jamais publicadas e que nunca serão lidas. A realidade pode ser cruel, mas será pior do que existir e ser esquecida?
Neste ano, li parte da tese de mestrado de Otto Leopoldo Winck. Deveria ser apenas um estudo sobre a teoria da narrativa. Mas ali, perdida em considerações, ele diz: "Como Sherazade, contamos histórias para não morrer."
Era como se a frase me definisse, fiquei emocionada. Nunca soube qual a pior das opções: não existir, ou ser esquecida. Não é verdade que todos os personagens desejam o sucesso, como tanto nos acusam. Quando nossa história é publicada, retomamos a vida em cada leitor, e parte do que somos se mistura àquilo que eles são. Ambos nos modificamos, cada qual um pouquinho. E se uma história faz sucesso, é como se fossemos fragmentados em dezenas, centenas, milhares ou milhões de experiências individuais.
É doloroso ainda ser um personagem e, ao mesmo tempo, ser um pouco de tantos leitores. Abri este blog, fiz até um perfil no tal facebook. Mas depois de tudo isso, passei algum tempo sem postar, apenas desenhando. Cansei de falar sozinha, porque esta é a sensação de escrever para uma máquina. Toc-toc, tem alguém aí? Fale pouco, fale rápido, curto, seco. Uma frase pretensiosa, que exprima em síntese um momento banal. Pronto, está comunicado, colocado na rede como o recado lançado ao mar em uma garrafa lacrada, sem que se saiba se haverá destino a chegar. Vou buscar o cheiro da maresia e o ruído das ondas para escrever colóquios solitários. Quem fala por mim, quando sinto a prisão da solidão em meio à multidão?


Muito prazer, meu nome é LANA. Sim, sou uma personagem.

Uma personagem, escrevendo através de uma pessoa real.
Não me condene por isso! Os personagens das histórias são uma grande população de excluídos, em qualquer sociedade nós existimos sem - jamais! - fazer parte de qualquer estatística oficial. É uma dependência cruel, essa que temos com nossos autores, e poucos imaginam o quanto eles podem ser tirânicos.
Mas já aceitei esse fato, assim como o aceitam os idosos fantasmas de construções deixadas à ruína, e antes deles o aceitaram os deuses ancestrais abandonados por seus adoradores. Todos os povos se erguem sobre os escombros daqueles que serão esquecidos, ou permanecerão excluídos como a memória indigesta que se prefere ignorar. E se assim comparar, pelo menos nós, personagens, temos grande vantagem: nossa voz é ouvida.
Mas deixemos as reclamações para outro momento, não é disso que quero falar agora, apenas precisava me apresentar a você. Descobri esse espaço virtual, onde até mesmo as pessoas reais perdem parte de sua nitidez e se confundem conosco. E aqui, fico à vontade para divagar. E é fato que adoro divagar. Não teria contado minhas histórias, reduzido meu universo infinito às letrinhas seqüentes de um livro, se isso não fosse um prazer. E porque não gostaria?
Para mim, o tempo é um holograma. Posso viver o passado, o presente ou o futuro, como e quando quiser. Posso reviver cada experiência, no exato momento em que a integro à minha fantasia, quantas vezes desejar. Não estou presa em um tempo cronológico, medido aos pedacinhos em uma linha reta e única, que nunca para e jamais retroage. E concebo com tristeza, aqueles que envelhecem sem poder retornar à juventude, ou se obrigam a ser jovens sem conhecer a sabedoria da idade. Não é de espantar que as pessoas reais tenham tanto medo da liberdade ou da aventura, se precisam optar sem conhecimento das conseqüências de suas decisões, ou ainda pior, sem poder voltar ao passado e reviver as emoções intensas que nortearam sua própria história.
Também por isso, gosto de divagar, e gosto de ser uma personagem. Ninguém é tão livre assim se vive uma vida real.



Ilustração ao romance Diário de Lana, "Cortesã Assassinada", de Elaine Falco/2011.
 desenho a grafite e efeitos em paint


Ilustração ao romance Diário de Lana, "Praça da Inquisição", de Elaine Falco/2011.
 desenho a grafite e efeitos em paint


Ilustração ao romance Diário de Lana, "A amante do inquisidor", de Elaine Falco/2011.
 escultura em adobe, pintura em acrílica e efeitos em paint


Ilustração ao romance Diário de Lana, "O castelo", de Elaine Falco/2011.
 pintura em aquarela e efeitos em paint


ESTAMOS EM OBRAS!

Vai começar o ano de 2012...
Eu não acreditei no “bug do milênio”. Achava improvável um “apocalipse”. Prá mim, a virada do século aconteceu sem grandes sustos, com pouca expectativa. Mas não consegui tanta frieza, com relação às profecias maias. Talvez porque acredite mais na força de criação – e destruição – da mãe natureza, do que na (irresponsável) capacidade de destruição da raça humana. Ou, quem sabe, porque a década foi marcada por mudanças climáticas, tantas e tão seguidas que se tornou impossível não prestar atenção.
Então, resolvi recomeçar esse blog. E porque não?
Sou uma artista de narrativas, e o “eterno tempo presente” da internet me confunde. Em meu processo criativo, tudo sempre se origina em algum lugar do passado, e caminha para algum lugar do futuro. Não podia deixar de ser: tenho dificuldade em falar neste dinâmico, instável e eterno “presente” da linguagem virtual.
Neste contexto, o blog foi um exercício interessante.
No blog, há uma inversão da ordem natural da leitura. Quem acessa, ou o faz de trás prá frente (lê a postagem mais recente, invertendo a ordem cronológica com que foi escrito), ou aos pedaços, conforme acessa um capítulo específico que lhe interesse. Não é possível fazer um raciocínio continuado: o que escrevi ontem, não tem sentido continuar hoje. O que escrevo hoje deve ser diferente do que escreverei amanhã. Os acessos, até para mim, são fragmentados. O que escrevi no mês anterior, automaticamente deixa de aparecer na tela, precisa ser aberto em ícone específico. Mesmo não sendo a minha vontade, o resultado final foi que até minhas opiniões precisavam ser fragmentadas para ter algum sentido neste espaço virtual. Para quem estava acostumada a longos textos e leituras impressas, era como escrever com gagueira ou soluço.
Mas, durante o ano, olhei as estatísticas. Acredita que tive acessos de outros países, lugares onde não conheço ninguém? Claro que podem ter entrado por engano... Uma busca por verbete, que parou em um blog desconhecido? Possível... Comecei esse blog como parte da experiência de um TCC (trabalho de conclusão de curso) em arte, que foi muito diferente do que eu imaginava que seria; assustadoramente crítico e humilhante, focado na pesquisa teórica e afastado dos processos criativos e da reflexão pessoal. A pesquisa que queria fazer foi excluída. Recusei-me a produzir a sugestão dada em substituição. Optei repetir a matéria, e partir de então continuei sozinha minha pesquisa e produção.
Refazer o blog, portanto, era a conclusão lógica.
Aquilo de que gostei, colocarei de volta. Aquilo que fiz somente para manter o blog ativo, será excluído. Este ano, estarei trabalhando com narrativas em literatura, cenografia (e canto) em ópera, continuo as pesquisa sobre o movimento paranista, e claro, pintura e escultura. Portanto, Lana continua a falar com sua própria voz, agora dividindo espaço com Blanziflor, a personagem de cartoon.
ENTÃO, VAMOS LÁ!
ESTAMOS EM OBRAS!




domingo, 16 de outubro de 2011

Medusa


(MEDUSA, Elaine Novaes Falco, desenho/paint, 2011)


... e seu olhar transforma em pedra.

sábado, 10 de setembro de 2011

Ópera Sidéria, música de Augusto Stresser, libreto Jayme Ballão

Você já ouviu ópera? Ainda que na imaginação, já subiu as escadarias do belo teatro, já adentrou ao hall decorado, já se acomodou nas poltronas macias, forradas de veludo, transportada para uma sensação de pura fantasia?

Porque ópera ainda sobrevive? Porque, em pleno século XXI e com tanta tecnologia, algumas coisas tão... tão... medievais!, como as feiras de rua e as óperas ainda sobrevivem? Talvez por sua alegria, pelo sentimento de comunhão, de comunidade. Assim são as óperas, como também as escolas de samba, uma festa de arte, e todas as artes, sobre um único palco.

Música, claro. É assim que se conhecem as óperas, pelo canto, as solistas e as solenes árias, o coro em seu movimento constante, a orquestra em seu explendor. Mas há mais, muito mais. A literatura está presente, porque tudo é uma grande narrativa, um libreto que é uma história, trágica, cômica, sempre emocionante. A dança, música e movimento. Há dramaturgia, sempre, pois como se poderia cantar uma história sem que o corpo e cena acompanhem tal emoção? E claro, também os artistas plásticos sempre presentes, na cenografia, nos figurinos, nas maquiagens ousadas em efeitos especiais.
Arte precisa "mes-mo" ser separada e classificada, explicada e fragmentada, com ares de ciência?












Pensar, pensar, pensar, cabeças, pensar, cabeças, pensar, pensar, pensar... pensar cabeças, pensar.

Pensar é como respirar. Qualquer fragmento de imagem, mesmo que simples memória. Pensar é estar vivo, fazer parte, estar no mundo. Pensar demais é insano. Uma conversa ininterrupta de fatos e expectativas.


Então faço cabeças. Cabeças que pensem comigo, que sonhem comigo, que expliquem em seus olhos fechados o que vejo dentro de mim. Representem o que represento, pensamentos sem censura, apenas idéias, ainda informes, tão vagas quanto simples expectativas.






domingo, 24 de julho de 2011

No, no, no...


Viver intensamente e morrer jovem. Amy Winehouse faleceu, aos 27 anos, neste sábado (23/07/2011), deixando poucas canções de inegável talento e uma história de vida conturbada – mas intensa -. Uma heroína bela, rebelde e trágica, como nos folhetins que pareciam abandonados ao século passado. Talvez o romantismo ainda esteja vivo, afinal.

sábado, 2 de julho de 2011

O homem sinistro


(Inquisidor/ Lana/ 2011)


"Nos tempos antigos, havia almas chamadas de devoradores de pecados. Eram espíritos, pássaros ou animais, às vezes seres humanos, que, num estilo algo semelhante ao do bode expiatório, assumiam os pecados, os dejetos, da comunidade, para que as pessoas pudessem ser redimidas ou purificadas." *


(Inquisidor/ Lana/ 2011)

"(...) Do mesmo modo, na mitologia nórdica, os devoradores de pecados eram os carniceiros que se alimentavam dos mortos, incubavam-nos no ventre e os levavam para Hel, que não é um lugar, mas uma pessoa. Hel é a deusa da vida e da morte. Ela ensina aos mortos como viver de frente para trás. Eles vão se tornando mais jovens, mais jovens até que estão prontos para renascer e para voltar à vida."*

* (ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que Correm com os Lobos, mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Tradução Waldéa Barcellos. Rocco, Rio de Janeiro, 1992. ESTÉS, pg85/86)


sábado, 16 de abril de 2011


"... e depois de tudo isso, vi o sol nascer com aquela indiferença da natureza, para quem toda manhã é um novo dia."

domingo, 3 de abril de 2011

Foto da capa

Convencê-la, não foi fácil. Ciumenta de seus desenhos. Pedia para colocar em foto, não permitia, e a aquarela permaneceu semanas sobre a mesa de desenho, como se assim as minhas memórias pudessem pertencer a ela. Custou, mas finalmente fotografou, e inseriu no computador a foto digitalizada, onde eu - enfim! - podia ter acesso.




De imediato, passei tudo para grafite. Não gosto de aquarelas! Para que as cores suaves? Minha natureza é intensa, visceral, prefiro a linha, o preto, o contraste. Mudei, claro. Esse é um corredor escuro, amedrontador. Que bobagem, colocá-lo em aquarela! Coisas de escritora, que escreve daquilo que não viveu. Se ela tivesse pisado aqueles degraus, não se submeteria a fazer um lugar tão isolado, sob tons claros pintados em água. E desfoquei, porque as linhas precisas eram uma falta de respeito para retratar alguém em transe.




Então, chegou a hora de fazer a capa do livro. Fiz-lhe uma homenagem, um carinho. Este é o drama de todo personagem, o amor que por fim desenvolvemos por nossos autores, na sensação de que eles também são parte das nossas histórias. Deixei as cores que ela escolheu. Acho que ficou bom.