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domingo, 29 de março de 2020

O MAPA DE VIDRO - S. E. Grove


O MAPA DE VIDRO
S. E. Grove



E se os tempos se misturassem?
E se uma Grande Ruptura fizesse com que determinados territórios voltassem ao passado, projetados para diferentes épocas? E se parte do mundo se tornasse medieval, outros regredissem até a idade da pedra, enquanto cidades relativamente modernas sobrevivessem em apartado? Como seria viajar por fronteiras que ultrapassam o tempo:
E o que aconteceria com aqueles que estavam nos territórios onde a Grande Ruptura aconteceu?






O MAPA DE VIDRO (S. E. Grove, livro I, tradução Paulo Ferro Júnior, Verus Editora 2015/1ª Edição) é uma história instigante, muita ação, muito mistério e muitos temas de reflexão.

Poisé...


Tenho que reconhecer que essa tal “quarentena mundial” e todo o caos que trouxe consigo, teve pelo menos esse ponto positivo aqui, para mim. O MAPA DE VIDRO é dos muitos livros que, nos últimos dois anos, eu comprei, me apaixonei pela história e, mesmo assim, não conseguia tempo para terminar de ler!



Não sei se, para vocês, esta quarentena também está significando um momento de reflexão. Por aqui, entrando na terceira semana de isolamento, enfim começo a controlar a sensação de pânico e incerteza, finalmente consigo desligar das notícias da televisão e reconhecer minha impotência diante da magnitude do problema, e então estou me voltando para os (muitos!) projetos pessoais e pequenas iniciativas que comecei e parei pela metade. Histórias que não foram escritas, desenhos que não foram terminados, estudos que estagnaram nos primeiros exercícios... e os livros, quantos!, que estão aguardando leitura depois das primeiras páginas, dos primeiros capítulos.


O MAPA DE VIDRO tinha entrado nesta lista, foi com prazer que terminei a leitura. Adoro mapas, adoro teorias sobre o “tempo”, e esse livro tem uma fantasia delirantemente provocativa que reúne os dois temas e mais uma coleção de personagens marcantes, originais e verossímeis. Nem sei explicar a quantidade de imagens que se consegue visualizar, pela imaginação, enquanto a leitura prossegue. Mapas desenhados por civilizações diferentes, nem todas exatamente “humanas”, informações codificadas em linguagens esquecidas, em símbolos desconhecidos, sobre bases inusitadas. E tem muita aventura, sequestros, monstros, cidades secretas e mares desconhecidos, piratas, cidadezinhas medievais, e muita magia. Uma delícia!




E aproveito, deixo mais uma dica.

Prá quem gosta de fazer exercícios de escrita criativa - e também de mapas -, não deixe de assistir ao vídeo Mapas, Mundos de Fantasia, exercício de Escrita Criativa, que faz parte da Playlist de exercícios do canal CUMÉKISCREVE Escrita Criativa & Arteterapia.

Você vai se divertir, e ainda sair com uma nova ideia para suas próprias histórias!





domingo, 19 de janeiro de 2020

Olympe de Gouges, uma rebelde na Revolução Francesa



Olympe de Gouges
Nasceu em Montauban, sudoeste da França, em 07 de maio de 1748. 
Seu verdadeiro nome era Maria Gouze, filha de Anne Olympe e Pierre Gouze (porém, há boatos de que seu verdadeiro pai era o escritor Jean-Jacques Lefrane, um nobre  escritor por quem a mãe de Olympe era apaixonada).
Faleceu em 03 de novembro de 1793, condenada à guilhotina pela Revolução Francesa.





Assista em vídeo no
CUMÉKISCREVE ESCRITA CRIATIVA & ARTETERAPIA, em 




Todos nós conhecemos, pelo menos um pouco, da Revolução Francesa, a famosa revolta popular que mudou os rumos da economia e da política ocidental. Tudo começou com uma crise fiscal, e a revolta da população se arrastou e cresceu por dez longos anos, de 1789 a 1799, período em que a monarquia francesa foi substituída por uma controvertida e violenta república, e mais um tribunal revolucionário que condenou os reis Luiz XV e sua esposa Maria Antonieta à morte pela guilhotina, executados em praça pública em 1793.
Os princípios que nortearam a Revolução Francesa ecoam em nossos corações até hoje: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Uma pena que a realidade da Revolução Francesa, com toda a sua violência, traições e luta pelo poder, não corresponda ao ideal fraterno de sua bandeira.

E Olympe de Gouges foi uma mulher traída pela revolução que ela tanto havia apoiado, e condenada à morte na guilhotina por razões que hoje nos parecem absurdas.

Olympe de Gouges nasceu em Montauban, sudoeste da França, em 07 de maio de 1748. Seu verdadeiro nome era Maria Gouze, filha de Anne Olympe e Pierre Gouze (porém, há boatos de que seu verdadeiro pai era o escritor Jean-Jacques Lefrane, um escritor por quem a mãe de Olympe era apaixonada).
Marie Gouze creceu no interior da França e casou-se com Louis-Yves Aubry, membro de uma família burguesa de Paris, quando tinha 17 anos. Mas o ano seguinte ao seu casamento foi muito turbulento: em 1766 nasceu seu filho Pierre e, pouco depois, seu marido veio a falecer.
Assim, aos 20 de idade, Marie já é uma senhora viúva e, como tal, escolhe viver em Paris onde poderia usufruir de mais liberdade, recusando a opção de casar-se novamente.
Em Paris, Marie adota o nome OLYMPE DE GOUGES, tanto para homenagear sua mãe como para afastar o cognome de “viúva Aubry”. Com este pseudônimo inicia uma bem sucedida carreira de escritora.
Nos anos seguintes produziria uma série de peças teatrais e um romance autobiográfico, enfrentando sucessivas dificuldades e obstáculos pelo fato de ser mulher. Um levantamento da época indica que das 2.627 obras registradas no repertório do teatro francês, desde 1680, apenas 76 foram escritas por mulheres. Olympe levou quatro anos para ver sua peça 'Zamore et Mirza' levada aos palcos, e quase foi presa na Bastilha pelas muitas denúncias que apresentou contra os teatros que atrasavam seu trabalho. Entre suas várias críticas, Olympe afirma que "é preciso barba no queixo para escrever uma boa peça", denunciando o preconceito que enfrentou.
Além das obras teatrais, Olympe também escreveu centenas de artigos sobre diversos temas polêmicos. Ela defendia o amor livre, a construção de maternidades para mães solteiras e de orfanatos, a criação de um teatro dedicado à dramaturgia feminina, de oficinas nacionais para os desempregados e de lares para os sem-teto. Combateu o tráfico negreiro, o racismo e a colonização, e defendia igualdade dos sexos e o divórcio.
Suas peças abolicionistas não eram bem aceitas pelos comediantes franceses da época, principalmente pelo fato de que os teatros da época dependiam de patrocínios, e uma boa parcela dos mecenas eram senhores de escravos. Por isso, muitas de suas peças só foram encenadas muito depois de terem sido escritas.
A opção de Olympe de Gouges foi criar a sua própria trupe, da qual participava seu filho Pierre Aubry. Era uma trupe itinerante que representava suas peças em Paris e regiões adjacentes. Apenas com o início da Revolução Francesa que a Comédie Française adquiriu mais autonomia, e suas peças foram enfim representadas ao público.

É como escritora que Olympe de Gouges se engaja e atua na Revolução Francesa, levando adiante as suas ideias libertárias. 
Porém, aqui, cabe um parênteses.

Hoje, quando falamos sobre os princípios da Revolução Francesa - “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” -, ou à tão famosa “Declaração dos direitos do homem e do cidadão” promulgado pela Revolução Francesa em 1789, automaticamente imaginamos que o termo “homem” como utilizado na declaração, queira se referir à “humanidade”, ao “ser humano”.
Só que não...
Quando a Revolução Francesa trata do “homem”, está a se referir especificamente ao sexo masculino. Ou seja: a liberdade, a fraternidade, a igualdade e a Declaração dos Direitos do Homem não inclui as mulheres.
Olympe de Gouges não se conformou com essa odiosa exclusão, e também se sentiu insatisfeita com os rumos da Revolução e as formas de governa adotadas pelo novo regime. Em 1791 ela lança duas obras que expõe seu posicionamento, a “Declaração dos direitos da mulher e da cidadã”, um libelo pela inclusão das mulheres nos ideais revolucionários -, e o livro “Três Urnas”, questionando a administração da nova república.
Nenhuma das duas obras foi bem acolhida pelo novo regime, que rapidamente identificou Olympe de Gouges como uma “traidora”, suas ideias consideradas crimes de calúnia contra os propósitos da Revolução e de seus líderes.
Olympe tentou se defender, mas o advogado por ela indicado sequer se apresentou no tribunal. Foi-lhe negado o direito de constituir outro defensor, e o julgamento à condenou à morte pela guilhotina no exíguo prazo de 24 hs após a decisão.
E assim, quinze dias após a morte da rainha Maria Antonieta, Olympe de Gouges teria o mesmo fim. Ela foi morta em 03 de novembro de 1793, em espetáculo público.



FRASES

“Mulheres, acorde. Reconheça seus direitos. Quando você vai parar de ficar cego? Que vantagens você obteve da Revolução?"
A ignorância, o esquecimento ou o desprezo pelos direitos das mulheres são as únicas causas de males públicos e corrupção dos governos.

Se a mulher tem o direito de subir à forca, ela deve ter igualmente o direito de subir à tribuna.




OLYMPE DE GOUGES

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA MULHER E DA CIDADÃ






Para ser decretada pela Assembléia Nacional
nas suas ultimas sessões ou na próxima.


Preâmbulo

As mães, as filhas, as irmãs, representantes da nação, reivindicam constituíremse em Assembléia Nacional.



Considerando que a ignorância, o esquecimento ou o menosprezo dos direitos da mulher são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção no governo, resolveram expor, em uma declaração solene, os direitos naturais inalienáveis e sagrados da mulher. Assim, que esta declaração, constantemente presente a todos os membros do corpo social, lhes lembre sem cessar os seus direitos e os seus deveres; que, sendo mais respeitados, os atos do poder das mulheres e os atos do poder dos homens possam ser a cada instante comparados com o objetivo de toda instituição política; e que as reivindicações das cidadãs, fundamentadas doravante em princípios simples e incontestáveis, sempre respeitem a constituição, os bons costumes e a felicidade de todos. Conseqüentemente, o sexo superior em beleza e em coragem, em meio aos sofrimentos maternais, reconhece e declara, na presença e sob a proteção do Ser Supremo, os seguintes Direitos da Mulher e da Cidadã.


Artigo primeiro
A Mulher nasce livre e permanece igual ao homem em direitos. As distinções sociais só podem ser fundamentadas no interesse comum.
Artigo segundo
O objetivo de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis da Mulher e do Homem. Estes direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança, e, sobretudo, a resistência à opressão.
Artigo terceiro
O princípio de toda soberania reside essencialmente na Nação, que nada mais é que a reunião da mulher e do homem: nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que não emane expressamente deles.
Artigo quarto
A liberdade e a justiça consistem em restituir tudo que pertence a outrem. Sendo assim, o exercício dos direitos naturais da mulher não tem outros limites senão a perpétua tirania que o homem lhe impõe; estes limites devem ser reformados pelas leis da natureza e da razão.
Artigo quinto
As leis da natureza e da razão proíbem todas as ações nocivas à sociedade; tudo que não é defendido por tais leis, sábias e divinas, não pode ser impedido, e ninguém pode ser constrangido a fazer aquilo que elas não ordenam.
Artigo sexto
A lei deve ser a expressão da vontade geral; todas as cidadãs e cidadãos devem colaborar pessoalmente ou por seus representantes, para a sua formação; ela deve ser igual pra todos: todas as cidadãs e todos os cidadãos, sendo iguais frente a ela, devem ser igualmente admitidos a todas as dignidades, postos e empregos públicos, de acordo com sua capacidade, e sem qualquer distinção a não ser por suas virtudes e seus talentos.
Artigo sétimo
Nenhuma mulher pode ser exceção; ela é acusada, presa e detida nos casos estabelecidos pela lei: as mulheres obedecem, assim como os homens, a esta lei rigorosa.
Artigo oitavo
A lei só deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias, e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada às mulheres.
Artigo nono
Com toda mulher declarada culpada, deve ser exercido todo rigor da lei.
Artigo dez
Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo que sejam de princípio; a mulher tem o direito de subir ao cadafalso; mas ela deve igualmente ter o direito de subir à tribuna, contanto que suas manifestações não perturbem a ordem pública estabelecida pela lei.
Artigo onze
A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões constitui um dos direitos mais preciosos da mulher, dado que esta liberdade garante a legitimidade dos pais em relação aos filhos. Toda cidadã pode, portanto, dizer livremente: “eu sou a mãe de um filho que lhe pertence”, sem que um preconceito bárbaro a force a esconder a verdade; sob pena de responder pelo abuso dessa liberdade nos casos estabelecidos pela lei.
Artigo doze
A garantia dos direitos da mulher e da cidadã necessita de uma utilidade maior; tal garantia deve ser instituída para vantagem de todos, e não para a utilidade particular daqueles a quem ela foi confiada.
Artigo treze
Para a manutenção da força pública, e para os gastos administrativos, as contribuições da mulher e do homem devem ser iguais; ela participa de todos os trabalhos ingratos, de todas as tarefas pesadas; ela deve, por conseguinte, ter a mesma participação da distribuição dos postos, dos empregos, dos cargos, das dignidades e da indústria.
Artigo catorze
As cidadãs e os cidadãos têm o direito de verificar por eles mesmos ou por seus representantes a necessidade da contribuição pública. As cidadãs só podem aderir a ela através de uma partilha igual, não apenas nos bens, mas também na administração pública, determinando a quota, o tributável, a cobrança e a duração do imposto.
Artigo quinze
O conjunto das mulheres, igualada aos homens na contribuição, tem o direito de pedir contas de sua administração a qualquer agente público.
Artigo dezesseis
Toda sociedade em que a garantia dos direitos não é assegurada, nem é determinada a separação dos poderes, não tem Constituição; a Constituição é nula se a maioria dos indivíduos que compõem a nação não contribuiu para a sua redação.
Artigo dezessete
As propriedades pertencem em conjunto ou separadamente a todos os sexos; para cada um, elas constituem um direito, enquanto a necessidade pública, legalmente constatada, evidentemente não o exigir, sob a condição de uma justa e prévia indenização.

Pós-âmbulo
Mulher, acorda!
A força da razão faz-se ouvir em todo o universo: reconhece teus direitos. O poderoso império da natureza já não está limitado por preconceitos, superstição e mentiras. A bandeira da verdade dissipou todas as nuvens da parvoíce e da usurpação. O homem escravo multiplicou suas forças, precisou recorrer às tuas (forças) para romper seus grilhões. Tornado livre, ele fez-se injusto em relação à sua companheira.
Mulheres!
Mulheres, quando deixareis de ser cegas?
Quais são as vantagens que obtivestes na Revolução?
Um menosprezo mais marcado, um desdém mais perceptível.
Durante os séculos de corrupção vós só conseguistes reinar sobre a fraqueza dos homens. Vosso império esta destruído; o que vos sobra? A convicção das injustiças do homem. A reivindicação de vosso patrimônio, fundada sobre os sábios decretos da natureza: o que teríeis a temer por uma empresa tão bela? A boa palavra do Legislador das núpcias de Caná?
Temei que nossos Legisladores franceses, corretores desta moral, há muito pendurada nos galhos da política, mas que não é mais oportuna, vos repitam: mulheres, o que há de comum entre vós e nós? Tudo, tereis de responder. Se eles se obstinam, em sua fraqueza, em pôr esta inconseqüência em contradição com os seus princípios, oponde corajosamente a força da razão às vãs pretensões de superioridade; reuni-vos sob os estandartes da filosofia; empenhai toda a energia do vosso caráter, e vereis logo estes orgulhosos se transformando, não em servis adoradores rastejando a vossos pés, mas em orgulhosos por compartilharem convosco os tesouros do Ser Supremo. Quaisquer que sejam as barreiras que se vos possam opor, está em vossas mãos superá-las; basta que o queirais. Tenhamos agora em conta o pavoroso quadro do que vós fostes na sociedade; dado que, neste momento, se trata de uma educação nacional, estejamos atentos para que nossos sábios Legisladores pensem sãmente sobre a educação das mulheres. As mulheres fizeram mais mal que bem. A coação e a dissimulação foram seu quinhão. O que a força lhes havia arrebatado, a astúcia lhes devolveu; elas apelaram para todos os recursos de seu charme, e o mais irrepreensível não lhe conseguia resistir. O veneno, o ferro, tudo lhe era submetido. Elas mandavam no crime assim como na virtude.
O governo francês, sobretudo, dependeu, durante séculos, da administração noturna das mulheres; o gabinete nada conseguia manter em segredo para sua indiscrição: embaixada, comando, ministério, presidência, pontificado, cardinalato; enfim, tudo que caracteriza a parvoíce dos homens, profana e sagrada, tudo foi submetido à cupidez e à ambição deste sexo outrora desprezível e respeitado, e depois da revolução respeitável e desprezado.






domingo, 29 de julho de 2018

AS MELHORES HISTÓRIAS DE VIAGENS NO TEMPO

Nesta semana começa uma nova novela na "Globo", cujo tema é uma viagem no tempo.

Mas "viagens no tempo" é matéria antiga na ficção científica. 
E são tantas histórias, e tão instigantes!

Então lembrei de um livro que li no ano passado, uma coletânea de contos intitulada AS MELHORES HISTÓRIAS DE VIAGENS NO TEMPO, organizado por Harry Turtledove com Martin H. Greenger (Editora Jangada, 2005).




O livro inicia com um texto [introdução] de Harry Turtledove, que faz uma reflexão muito interessante, comparando como todos nós - e particularmente a geração contemporânea, que acompanhou profundas mudanças tecnológicas e comportamentais dos últimos cem anos - somos, de certa forma, "viajantes do tempo".

E Harry prossegue a reflexão com uma síntese dos principais problemas e paradoxos que a possibilidade da viagem no tempo implicaria, e uma síntese como os principais autores de ficção científica (e que integram o volume com contos curtos) trabalhou a questão. 

Em seguida, começam os contos, cada qual precedido de uma breve análise das obras de relevância com que os respectivos autores influenciaram sua época, ou foram influenciados por ela. 

O enfoque que os organizadores dão a esta pequena análise amplia consideravelmente a leitura do próprio conto, já que os textos colacionados abrangem um período cronológico de mais de um século de escrita criativa. Com os parâmetros fornecidos, mesmo que sinteticamente, podemos inserir cada conto em seu contexto histórico, e visualizar como a ideia impactou (ou foi impactada) pelas mudanças e aventuras de cada época.

Então...
Quer uma atualização rápida sobre histórias de viagens no tempo?
Este livro vale a pena: os melhores nomes, os autores mais significativos, tiveram suas obras reunidas neste volume.
Olha a qualidade desta seleção!


Ontem Foi Segunda Feira - Theodores Sturgeon (1918-1985)
O Armário do Tempo - Henry Kuttner (1914-1958)
A Seta do Tempo - Arthur C. Clarke
Estou Com Medo - Jack Finney (1911-1995)
Um Som de Trovão - Ray Brdbury
A Nave da Morte - Richard Matherson
Arma para Dinossauros - L. Sprague de Camp (1907-2000)
O Homem que Chegou Cedo - Poul Anderson (1926-2001)
Rainbird - R. A. Lafferty (1914-2002)
Leviatã - Larry Niven
Projeto de Aniversário - Joe Haldeman
Inversão do Tempo - Jack Dann
Vigia de Incêndio - Connie Willis
Rumo a Bizâncio - Robert Silverberg
O Produto Puro - John Kessel
Trapalanda - Charles Sheffild (1935-2002)
O Preço das Laranjas - Nancy Kress
Outra História ou Um Pescador do Mar Interior - Ursula K. Le Guin


CRIATURAS ESTRANHAS - selecionadas por NEIL GAIMAN

Pois assisti ao filme "Animais Fantásticos e Onde Habitam" (2016, direção David Yates, autora J. K. Rowling), e depois não conseguia parar de pensar em animais fantásticos... e onde habitam!

Foi nesta onda que encontrei o livro CRIATURA ESTRANHAS - Histórias Selecionadas por Neil Gaisman (Ed. Fantástica Rocco, 2013), uma coletânea de contos de dezesseis autores consagrados, sobre personagens fantásticos do mundo animal.

Um livro DELICIOSO!
(e olha que não sou fâ de contos!)

A começar pela introdução, o livro é uma viagem ao inusitado.
Neil Gaiman faz a mágica ligação entre os museus de história natural e a imaginação infantil, essa mistura única de realidade e fantasia, passado & futuro, a semente de boas histórias.

Cada conto é precedido de uma mini-apresentação do autor, sempre com um toque de humor. Poucas palavras que transformam autores a quem nunca seremos pessoalmente apresentados, em alguém que parece estar na nossa cozinha, partilhando um café e uma fofoca saborosa.

E prá quem gosta do mundo mágico animal, o livro é um espetáculo.
Sente só a qualidade dos contos:




As Vespas Cartógrafas e as Abelhas Anarquistas (Gahan Wilson)
O Grifo e o Cônego Menor (Frank R. Stockton)
Ozioma, a Maligna (Nnedi Okorafor)
Pássaro do Sol (Neil Gaiman)
O Sábio de Theare (Diana Wynne Jones)
Saki  (Gabriel Ernest)
O Cacatuano Ou A Tia-Avó Willoughby ( E. Nesbit)
O Mal Também se Levanta (Maria Dahvana Headley)
O Voo do Cavalo (Larry Niven)
Prismática, Homenagem a  James Thurber (Samuel R. Delany)
A Manticora, a Sereia e eu (Megan Kurashige)
Lobisomem Cabal (Anthony Boucher)
O Sorriso no Rosto (Nalo Hopkinson)
Ou Todos os Mares com Ostras (Avram Davidson)
Venha Dona Morte (Peter S. Beagle)








TÔ DE VOLTA!

Mais de dois anos de silêncio neste blog dão a dimensão da quantidade de mudanças que revolucionaram a minha vidinha... E a despeito das frases repetidas tão politicamente-corretas, não vou dizer que tenha sido uma experiência "positiva", tampouco "a crise" fez de mim uma pessoa "melhor".

O que me salva, como sempre, são os livros. Não houve tempo nem tranquilidade para voltar aqui e fazer resenhas, mas ainda são eles - os livros, sempre os livros - que me mantém emocionalmente sã.



Todos os dias acordo decidida a recomeçar, a me reinventar. Algum esforço rendeu resultado, mas muito não teve continuidade e se perdeu, nada além de ideias e conversas jogadas ao vento. Ainda tento entender o mundo que me cerca (sem muito sucesso), ainda tenho prazer em fugir da realidade optando pela fantasia (sempre funciona). Comecei cursos. Voltei a desenhar. Ainda não decidi o que fazer com o resto da minha vida.



Mas recuperar projetos antigos faz parte do meu momento atual.
Esse blog, por exemplo...
Lá vamos nós, traveiz!





quinta-feira, 10 de março de 2016

TUDO É ÓBVIO (desde que você saiba a resposta), DUNCAN J. WATTS

Sempre tive problemas com o "óbvio"...
E tudo começa quando alguém me pede para explicar o que é aquilo que, para mim, é "óbvio".

Alguma vez você já tentou explicar algo que , para você, é "óbvio"?
Pois eu, já... V-Á-R-I-A-S-V-E-Z-E-S.
E toda vez que isso acontece, acabo concluindo que aquilo que, para mim, é "óbvio", trata-se tão somente de algo sobre o qual pensei muito pouco ou nada, alguma tortuosa "verdade" em que acreditei sem refletir, e... XEN-TI, como é difícil explicar o que nos parece "óbvio"!

Mas me tranquiliza perceber que não é só comigo... Porque já me reconheci, inúmeras vezes, na expressão pasma de outras pessoas colocadas na mesma situação, aquele momento de surpresa quando descobrimos que aquela questão em discussão não é "óbvia", igual, para todo mundo. E, claro, os passos seguintes, o raciocínio acelerado, descobrir que, "óbvio" é apenas algo sobre o qual não se refletiu, uma verdade alheia que se aceitou como "certa" e não se sabe nem porquê. E, então, o silêncio constrangido, seguido do tatear das palavras em busca fútil para encontrar dentro de si uma explicação que não existe, um ponto de vista que nunca foi desenvolvido.

Foi com curiosidade que comecei a ler TUDO É ÓBVIO *desde que você saiba a resposta (como o senso comum nos engana - Uma Nova Maneira de Pensar), de Duncan J. Watts (Ed. Paz e Terra, com tradição de Letícia Della Giacomo de França, 6ª Edição/Rio de Janeiro/2015). O livro me foi emprestado, quero devolvê-lo este fim de semana, então recomeço a lista das resenhas (atrasadas, rs) por este.

O livro começa muito bem, e me reconheci.
Na primeira parte, relaciona o "óbvio" ao senso comum.
E gostei do título do capítulo 4, A SABEDORIA (E A LOUCURA) DAS MULTIDÕES, discorrendo sobre como o senso comum parte de um raciocínio divulgado, a que todos aderem de uma forma generalista e coletiva, mas que tem a mesma probabilidade de estar "certo" quanto de estar "errado". Para o autor, senso comum é como um ditado popular, algo que se repete como fosse uma verdade absoluta para toda e qualquer situação, mas que, de fato, só se coaduna com determinadas situações, bem específicas.

Uma pena que, nos capítulos seguintes, o assunto anunciado no título, não continue.
E se os primeiros capítulos são ótimos... depois, acho, o autor tentou inserir outro assunto de seu agrado e interesse, as mídias sociais, que rapidamente introduz como indutoras do "senso comum", e então foge do tema.
O problema é que, ao tratar das mídias sociais, o livro passa a se preocupar mais com conceitos de "popularidade", ou do potencial da internet como veículo de pesquisas, enquanto o tema proposto no título do livro simplesmente desaparece. A dada altura, eu já não entendia mais o que o texto tinha a ver com a ideia do "óbvio", e a leitura que começou interessante, tornou-se cansativa.

Depois de arrastar semanas e não conseguir, de fato, terminar de ler o livro, ficou a sensação que, também para o autor, não foi nada fácil explicar o "óbvio".
(Bom... isso eu até entendo!)